Lactação induzida: criança é amamentada por duas mães em Brasília Ouvir 17 de setembro de 2023 A brasiliense Mariana de Alcântara, 39 anos, e a mineira Maisa Pereira, 36, estão juntas há 12 anos. Há cinco, o casal decidiu que era o momento de aumentar a família. Com a ajuda da fertilização in vitro, elas se tornaram mães de Mateus, 2 anos, e Maria Olívia, 2 meses. As duas crianças foram gestadas por Mariana, que também amamentou exclusivamente Mateus. Quando o menino nasceu, as duas acreditavam que apenas ela seria capaz de amamentar os filhos do casal, uma vez que a servidora pública havia gestado e passado por todas as transformações hormonais que possibilitam a lactação. Mas este ano, a responsabilidade da amamentação foi dividida com Maisa graças a um protocolo de lactação induzida realizado na Maternidade Brasília. “Foi bem emocionante. É sensação inexplicável ver a nossa filha, um bebê pequenininho, indo no peito. Foi uma evolução para a Maria também, sair da incubadora onde estava tomando leite na sonda, e conseguir sugar o meu peito”, conta Maisa. Leia também Saúde Estudo: amamentação reduz mortalidade de bebês em 33% no primeiro ano Ponto de vista Amamentação saudável exige esforço coletivo e apoio no trabalho Vida & Estilo Amamentação: confira 4 direitos de toda lactante no Brasil Brasil Ministério da Saúde anuncia salas de amamentação em UBSs do país “Nós não tínhamos noção de que era possível. Na gestação do Mateus, nenhum médico nos informou sobre a indução da amamentação”, explica. “O assunto não surgiu nas nossas pesquisas, por isso não cogitamos essa hipótese”, completa Mariana. Foram duas semanas de tratamento com a ajuda da equipe neonatal, em um projeto piloto da Maternidade, até que Maisa conseguisse produzir a primeira gota de leite materno em uma das mamas. “Eu estava desanimada, achando que não conseguiria produzir nas duas mamas, e comecei a fortalecer o estímulo na outra. Depois de um tempo, o leite saiu nas duas”, conta a mineira. Protocolo para lactação induzida O protocolo de lactação induzida ainda engatinha no país. A pediatra neonatal Ana Amélia Fialho, responsável pela formulação do programa na Maternidade Brasília, acredita que ainda falta divulgação sobre a segurança do método para que ele se popularize, possibilitando que mais pessoas consigam amamentar. “O método propõe a indução da lactação de forma assistida por uma equipe multiprofissional, levando à inclusão de pessoas neste processo tão importante que é a amamentação”, afirma Ana Amélia. O protocolo da indução de produção de leite materno é destinado para indivíduos que não gestaram, mas gostariam de amamentar. Assim, podem se beneficiar casais homoafetivos femininos, mulheres trans, travestis e pessoas que adotaram bebês ou tiveram filhos por barriga solidária. O método não é indicado para homens cis, já que seria necessário um bloqueio de testosterona que é considerado antiético. Os interessados devem passar por uma consulta com ginecologista ou obstetra previamente pra que sejam avaliadas as questões biológicas e psicologias. “Caso haja confirmação da vontade de indução, será avaliada a questão ética”, afirma a médica. No caso das mães adotivas, ou quando a vontade de amamentar surge nos dias próximos ao parto, a lactação pode ser um pouco mais desafiadora porque elas não têm tempo de se preparar. “O desafio é grande. É preciso um suporte emocional e motivacional para que a lactação ocorra”, considera Ana Amélia. A lactação é possível a partir da estimulação das mamas com bomba elétrica (com orientação da equipe neonatal), associada a métodos farmacológicos, como o uso de medicamentos hormonais e não hormonais. Ana Amélia destaca que o protocolo é completamente diferente da amamentação cruzada – quando mães amamentam filhos de outras pessoas que apresentam alguma dificuldade com o aleitamento –, uma prática contraindicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). “A amamentação cruzada não é recomendada devido ao risco de transmissão de HIV, HPV, Chagas e hepatites, por exemplo. Um dos pontos principais do protocolo de lactação induzida é a realização de exames contínuos para garantir uma amamentação saudável, sem transmissão de doenças. O leite humano é capaz de levar ao recém-nascido condições causadas por diversos patógenos, tanto quanto o sangue e outros fluidos orgânicos”, explica. Troca afetiva com o bebê Para Maisa, a possibilidade de amamentar mudou sua relação com a maternidade, tanto por se sentir incluída no processo, quanto pela troca com a criança – com um elo de ligação mais forte – e pelo apoio à companheira. “Quando era mais novo, o Mateus pedia pela Mariana quando queria o peito ou estava estressado por uma vacina, por exemplo. Com a Maria, sinto que posso dar esse acalento. Ela vem em mim como se eu também tivesse gestado”, afirma. Além de usar a bombinha para estimular as mamas, Maisa também fez a dieta APLV, indicada para gestantes, e excluiu completamente o consumo de leite de vaca e derivados. “Tudo tem valido a pena para conseguir deixar a Maria no meu peito”, afirma. As mães se revezam para amamentar a menina nas madrugadas, dividindo também o desgaste físico e dando a oportunidade da criança ter o contato mais próximo com as duas mães. Embora Maisa ainda produza menos leite do que Mariana devido a uma redução de mama anterior e o tempo de início da indução, as mães contam que isto não é um problema para Maria Olivia, que sempre se mostra satisfeita. Para a servidora pública, a garantia de que a filha terá acesso ao leite materno durante o crescimento é o principal benefício da lactação induzida. “Eu entendo que a saúde da criança é ainda mais importante do que a realização do sonho da mãe de amamentar. A partir do momento que a pessoa se sente mãe e vê que o filho tem a possibilidade de tomar o melhor leite, com a transferência de todos os anticorpos, ela fica ainda mais feliz. É uma troca muito especial”, diz Mariana. Siga a editoria de Saúde no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto! Notícias
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