Em março deste ano, Keiton Victor de Araújo Silva, de 15 anos, foi parar no pronto-socorro sentindo palpitações. Ele joga basquete desde os 12 anos e saiu de um treino se sentindo muito mal: o jovem também estava com dor de cabeça e gripado.
Keiton não tinha histórico de problemas cardíacos que explicasse a taquicardia, e foi uma inteligência artificial (IA) que ajudou os médicos a desvendar o mistério: o atleta tinha síndrome de Wolff-Parkinson-White.
“Senti dor no coração mesmo, aí corremos para o hospital. Repetimos o eletrocardiograma três vezes — eu nunca tinha feito esses exames e estava meio assustado. Mas, com certeza, o diagnóstico feito com a inteligência artificial salvou minha vida”, lembra o jovem.
O eletrocardiograma foi analisado em conjunto com o Kardia, um programa de inteligência artificial que funciona comparando os exames com uma base de dados e destacando pontos de atenção para o médico que vai emitir o laudo.
O sistema funciona como um marca-texto e ressalta aspectos importantes que poderiam não ser vistos em uma leitura rápida . O exame do jovem mostrou alterações típicas da síndrome, apesar de não estar em taquicardia.
A mãe de Keiton, Eliane Martins, atribui o sucesso do diagnóstico à inteligência artificial. “Foi precisa e rápida, e tenho certeza absoluta de que ela salvou a vida do meu filho”, destaca.

Keiton fazendo eletrocardiograma que foi avaliado pela inteligência artificial Kardio
Acervo pessoal

O eletrocardiograma é um tipo de exame que avalia o ritmo cardíaco
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Keiton foi operado no fim de junho para reparar o problema que tinha no coração
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A síndrome de Wolff-Parkinson-White
A família nunca tinha ouvido falar da síndrome de Wolff-Parkinson-White antes do diagnóstico. A doença é causada por uma malformação congênita que reduz a eficiência do coração, gerando batimentos cardíacos acelerados (taquicardias).
A cardiologista Ximena Ferrugem Rosa, responsável pelo tratamento de Keiton, explica que a doença é como uma interferência elétrica no coração.
“Nosso coração possui um sistema elétrico que coordena os batimentos cardíacos. As pessoas com a síndrome têm um fio extra, que aumenta a tensão deste sistema e facilita os curtos-circuitos”, afirma a médica, que é especialista em arritmias e atua no Hospital Brasília Unidade Águas Claras.
Dependendo da gravidade, a Wolff-Parkinson-White pode facilitar o surgimento de arritimias até mortes súbitas. Os indivíduos com a síndrome podem apresentar palpitações, falta de ar, dor no peito e desmaios.
Por causa dos impactos no coração, uma das restrições impostas para pessoas com a doença é a atividade física.
“Meu filho jogava basquete há três anos sem que soubéssemos da doença. Quando recebemos o diagnóstico, vimos o risco que estávamos correndo. Foi um susto forte”, explica Eliane.
Inteligência artificial facilitou o tratamento
Ximena destaca que o diagnóstico precoce, facilitado pela inteligência artificial, é fundamental para planejar uma estratégia de tratamento e evitar o risco de consequências mais graves.
“O diagnóstico precoce dá alternativas de tratamento, diminui o risco de morte e também aumenta a qualidade de vida do paciente. Ele é fundamental especialmente para quem pratica atividades físicas, principalmente competitivas, que exigem esforço do coração”, completa a médica.
Keiton passou por uma pequena cirurgia em 29 de junho para reparar o problema nas estruturas do coração encontrado pela inteligência artificial.
“Neste procedimento de ablação, cauterizamos uma parte do coração com um cateter. Esta pequena queimadura pode ser feita com calor ou frio, mas permite uma correção mais duradoura e tira a necessidade de regular os batimentos usando remédios”, explica a médica.
O jovem lembra que ficou com medo ao realizar a cirurgia, a primeira que fez na vida. O procedimento, porém, foi um sucesso. “Acho que umas cinco horas depois eu já estava de pé, andando, tranquilo”, lembra.
Graças ao tratamento, Keiton voltou a jogar basquete. “Meu filho hoje está curado e já retomou as suas atividades”, comemora a mãe.
“Minha vida melhorou muito depois da cirurgia. Antes, quando ia correr, eu ficava muito ofegante, sentia a pressão alta, como se fosse um quadro de ansiedade. Agora entendo o que foi. Hoje em dia, consigo comer qualquer alimento, até os mais gordurosos, que não conseguia”, conta o estudante.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), doenças cardiovasculares são algumas das principais causas de mortes no Brasil. Segundo a instituição, a maioria dos óbitos poderiam ser evitados ou postergados com cuidados preventivos e medidas terapêuticas
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Para a SBC, a prevenção e o tratamento adequado dos fatores de risco e das doenças do coração podem ser o suficientes para reverter quadros graves. Para isso, é necessário saber identificar os principais sintomas de problemas cardiovasculares e tratá-los, caso apresente algum deles
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Dentre as doenças cardiovasculares que mais fazem vítimas fatais, o Acidente Vascular Cerebral (AVC) se destaca. Ele é causado devido à presença de placas de gordura que entopem os vasos sanguíneos cerebrais. Entre os sintomas estão: dificuldade para falar, tontura, dificuldade para engolir, fraqueza de um lado do corpo, entre outros
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A arteriosclerose é uma doença provocada pelo endurecimento das artérias que levam oxigênio e nutrientes do coração para o corpo. A condição prejudica o fluxo sanguíneo e faz com que o paciente sinta fraqueza, fadiga e dores no peito. Além de estar relacionada com o processo de envelhecimento, a doença pode ser causada por colesterol alto, genética, diabetes e hipertensão
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A cardiomiopatia é outra grave doença que acomete o coração. A enfermidade, que deixa o músculo cardíaco inflamado e inchado, pode enfraquecer o coração a ponto de ser necessário realizar transplante. Entre os sintomas da doença estão: fraqueza frequente, inchaços e fadiga
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O infarto do miocárdio acontece quando o fluxo sanguíneo no músculo miocárdio é interrompido por longo período. A ausência do sangue na região pode causar sérios problemas e até a morte do tecido. Obesidade, cigarro, colesterol alto e tendência genética podem causar a doença. Entre os sintomas estão: dor no peito que dura 20 minutos, formigamento no braço, queimação no peito, etc.
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Uma das doenças do coração mais comuns, e grave é a insuficiência cardíaca. Ela é caracterizada pela incapacidade do coração de bombear o sangue para o organismo. A enfermidade provoca fadiga, dificuldade para respirar, fraqueza, etc. Entre as principais causas da enfermidade estão: infecções, diabetes, hábitos não saudáveis, etc.
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A doença arterial periférica, assim como a maioria das doenças do coração, é provocada pela formação de placas de gordura e outras substâncias nas artérias que levam o sangue para membros inferiores do corpo, como pés e pernas. Colesterol alto e tabagismo contribuem para o problema. Entre os sintomas estão: feridas que não cicatrizam, disfunção erétil e inchaços no corpo
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Causada por bactérias, fungos ou vírus de outras partes do corpo que migram para o coração e infeccionam o endocárdio, a endocardite é uma doença que pode causar calafrios, febre e fadigas. O tratamento da doença dependerá do quadro do paciente e, algumas vezes, a cirurgia pode ser indicada
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Causada devido à inflamação de outros músculos cárdicos, a miocardite pode causar enfraquecimento do coração, frequência cardíaca anormal e morte súbita. Dores no peito, falta de ar e batimentos cardíacos anormais são alguns dos principais sintomas
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Além dos sintomas comuns de cada uma das doenças cardiovasculares, cansaço excessivo sem motivo aparente, enjoo ou perda do apetite, dificuldade em respirar, inchaços, calafrio, tonturas, desmaio, taquicardia e tosse persistente podem ser sinais de problemas no coração
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Segundo a cartilha de Diretriz de Prevenção Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), apesar de alguns casos específicos, é possível prevenir problemas no coração mantendo bons hábitos alimentares, praticando exercícios físicos e cuidando da mente
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