A dengue é uma doença que incomoda mas, na maioria dos casos, é considerada simples. De acordo com o Ministério da Saúde, a cada 10 mil infectados com o vírus, apenas três morrem de dengue.
Porém, o paciente pode desenvolver a forma crítica da condição, que preocupa os profissionais de saúde — a cada 10 mil indivíduos com dengue grave, são 343 óbitos.
Infectologistas ouvidos pelo Metrópoles alertam que poucos pacientes são orientados corretamente a observar pioras que indicam a progressão para a dengue grave.
Segundo o médico Antonio Bandeira, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), o quadro costuma piorar entre o quarto e o quinto dia após o início dos sintomas. Se não houver melhora mesmo com tratamento, a orientação é retornar ao hospital.
“A dengue grave geralmente tem impacto nas células do sangue, por isso ficou conhecida como hemorrágica. Ela ocorre quando a infecção ataca as células responsáveis pela coagulação sanguínea, o que facilita a formação de hemorragias internas e externas, complicando muito o tratamento”, resume o especialista.
Sintomas da dengue grave
As hemorragias podem ser notadas em sangramentos persistentes no nariz, gengiva e também nas fezes e na urina. Entretanto, mesmo sem elas, a dengue grave apresenta sinais de complicação.
A partir do quarto dia de sintomas, se o paciente está seguindo o tratamento determinado, qualquer manutenção ou piora do quadro pode ser indicativo de dengue grave. Ela se manifesta geralmente com:
- Febre alta, que demora a passar mesmo com medicação;
- Dor abdominal intensa e contínua;
- Náuseas e vômitos persistentes;
- Dificuldades para respirar;
- Confusão mental;
- Fadiga;
- Queda da pressão arterial;
Estes sintomas indicam complicações por hemorragias (como a dificuldade de respirar, que pode ser fruto de um acúmulo de sangue no pulmão) ou de complicações neurológicas (como a confusão mental), que são mais raras.

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A dengue é uma doença infecciosa transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti. Com maior incidência no verão, tem como principais sintomas: dores no corpo e febre alta. Considerada um grave problema de saúde pública no Brasil, a doença pode levar o paciente à morte
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O Aedes aegypti apresenta hábitos diurnos, pode ser encontrado em áreas urbanas e necessita de água parada para permitir que as larvas se desenvolvam e se tornem adultas, após a eclosão dos ovos, dentro de 10 dias
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A infecção dos humanos acontece apenas com a picada do mosquito fêmea. O Aedes aegypti transmite o vírus pela saliva ao se alimentar do sangue, necessário para que os ovos sejam produzidos
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No geral, a dengue apresenta quatro sorotipos. Isso significa que uma única pessoa pode ser infectada por cada um desses
micro-organismos e gerar imunidade permanente para cada um deles — ou seja, é possível ser infectado até quatro vezes
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Os primeiros sinais, geralmente, não são específicos. Eles surgem cerca de três dias após a picada do mosquito e podem incluir: febre alta, que geralmente dura de 2 a 7 dias, dor de cabeça, dores no corpo e nas articulações, fraqueza, dor atrás dos olhos, erupções cutâneas, náuseas e vômitos
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No período de diminuição ou desaparecimento da febre, a maioria dos casos evolui para a recuperação e cura da doença. No entanto, alguns pacientes podem apresentar sintomas mais graves, que incluem hemorragia e podem levar à morte
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Nos quadros graves, os sintomas são: vômitos persistentes, dor abdominal intensa e contínua, ou dor quando o abdômen é tocado, perda de sensibilidade e movimentos, urina com sangue, sangramento de mucosas, tontura e queda de pressão, aumento do fígado e dos glóbulos vermelhos ou hemácias no sangue
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Nestes casos, os sintomas resultam em choque, que acontece quando um volume crítico de plasma sanguíneo é perdido. Os sinais desse estado são pele pegajosa, pulso rápido e fraco, agitação e diminuição da pressão
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Alguns pacientes podem ainda apresentar manifestações neurológicas, como convulsões e irritabilidade. O choque tem duração curta, e pode levar ao óbito entre 12 e 24 horas, ou à recuperação rápida, após terapia antichoque apropriada
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Apesar da gravidade, a dengue pode ser tratada com analgésicos e antitérmicos, sob orientação médica, tais como paracetamol ou dipirona para aliviar os sintomas
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Para completar o tratamento, é recomendado repouso e ingestão de líquidos. Já no caso de dengue hemorrágica, a terapia deve ser feita no hospital, com o uso de medicamentos e, se necessário, transfusão de plaquetas
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Quem tem mais risco de ter dengue grave?
Todas as faixas etárias são igualmente suscetíveis à doença, mas os idosos, grávidas, lactantes, crianças de até 2 anos e pessoas que possuem doenças crônicas, como diabetes e pressão alta, têm maior risco de evoluir para casos graves e sofrer complicações que podem levar à morte.
Adolescentes com dengue também são hospitalizados com frequência com o quadro grave — por isso, jovens de 10 a 14 anos foram considerados público prioritário para a vacinação no sistema público de saúde.
O imunizante não foi testado pela Takeda, fabricante da vacina Qdenga, nos demais grupos de risco e, por isso, eles não estão na lista de prioridade e não podem se vacinar.
Como a dengue fica mais grave?
Em geral, a dengue possui uma fase crítica (entre o primeiro e o quarto dia de infecção) em que os sintomas aparecem, se intensificam e começam a desaparecer. Apenas 5% das pessoas infectadas terá a forma grave da doença — as chances de complicação aumentam fortemente quando o indivíduo já foi infectado anteriormente.
O vírus da dengue, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, possui quatro sorotipos diferentes, sendo o DENV-1 e DENV-2 os mais frequentes no Brasil. O DENV-3 reapareceu recentemente no país, e a transmissão dele é uma das explicações para o aumento de casos em 2024.
Uma vez infectada, a pessoa ganha um bônus e um ônus: a vantagem é a imunidade permanente contra o sorotipo com o qual teve contato. Porém, os mesmos anticorpos que protegem contra um tipo da doença acabam atrapalhando no combate aos outros.
É como se o corpo, após a primeira infecção, identificasse corretamente o inimigo (a dengue) e voltasse a produzir as células que já aprenderam a derrotá-lo. Se for o mesmo sorotipo, a pessoa nem fica doente. Porém, se a arma do inimigo não é a mesma, ou seja, se estamos diante de outra forma da doença, as células de defesa não são eficazes.
Até o corpo entender que está produzindo defesas inúteis, o vírus se reproduz no corpo — assim, fica mais fácil para a dengue se espalhar e eventualmente atacar as plaquetas, células responsáveis pela coagulação sanguínea. Sem as unidades, mesmo microfissuras não param de sangrar, enfraquecendo ainda mais o indivíduo.
Porém, nem sempre os casos mais graves aparecem depois de um diagnóstico anterior.
“É possível ter dengue grave já na primeira infecção. Para piorar, frequentemente a primeira infecção não manifesta sintomas, então sem testes prévios nunca podemos garantir quantas vezes já fomos infectados”, explica o infectologista Leonardo Weissmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas (SP) e professor da Universidade de Ribeirão Preto.
Quais remédios usar em caso de dengue?
Como a forma grave da dengue costuma aparecer quando o vírus ataca as plaquetas, é muito importante evitar remédios que debilitem a ação das células.
“Não se pode tomar nem o ácido acetilsalicílico (aspirina) nem outros anti-inflamatórios não-hormonais, como o ibuprofeno, devido ao risco aumentado de eles gerarem complicações hemorrágicas”, detalha Weissmann.
Alguns remédios, porém, podem ser usados para amenizar os sintomas e não atrapalham a recuperação do corpo. Entre eles estão a dipirona, para as dores e a febre, e o paracetamol. Veja a lista completa.
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