Por anos, as únicas formas de prevenção contra a dengue foram o controle da proliferação do mosquito Aedes aegypti e o uso de repelentes e de armadilhas larvicidas. A aprovação de uso da vacina Qdenga, no ano passado, trouxe a esperança de que os surtos e as epidemias da doença fossem, finalmente, contidos.
No entanto, neste início de 2024, quando o Brasil caminha para a pior epidemia de sua história, a quantidade de vacinas disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) é suficiente para alcançar apenas 1,6% da população, e o imunizante está restrito à faixa etária entre 10 e 14 anos.
A vacinação nas clínicas particulares, com a Qdenga sendo comercializada por cerca de R$ 500, chegou a ser suspensa por falta de doses.
O contrassenso – existir a vacina, mas não ter a quantidade de imunizantes necessários para a aplicação – é atribuído pelo governo e pelo próprio fabricante, o laboratório Takeda, à falta de capacidade de produção.
O Ministério da Saúde e a empresa japonesa firmaram, em dezembro passado, um acordo garantindo o recebimento de todo o estoque da vacina entre 2024 e 2025.
Neste ano, serão entregues 6,5 milhões de doses, suficientes para vacinar 3,2 milhões de pessoas. Para 2025, há o compromisso de fornecimento de 9 milhões de doses.
O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, reforça a necessidade de que a vacinação seja ampliada o quanto antes.
“É claro que é importante ter os adolescentes vacinados, mas nós precisamos de muito mais gente imunizada para segurar uma epidemia. Precisamos caminhar para ter mais doses, universalizar a oferta em todos os municípios e aumentar a cobertura vacinal”, opina Kfouri.

Como aumentar a produção da vacina contra a dengue?
No início deste mês, a farmacêutica Takeda anunciou que firmou uma parceria com a fabricante indiana Biological E para ampliar a produção da vacina. As doses produzidas na Índia serão destinadas a países onde a dengue é endêmica.
Ao Metrópoles a empresa afirmou que também está em busca de parcerias para a fabricação da vacina no Brasil.
“A Takeda Brasil está fortemente comprometida em buscar parcerias com laboratórios públicos nacionais para acelerar a capacidade de produção da vacina, alinhada às diretrizes do Complexo Econômico Industrial da Saúde (CEIS) para atender a demanda do SUS sob os princípios de integralidade e da universalidade”, informou a empresa.
Na sexta-feira (8/3), a ministra da Saúde, Nísia Trindade, prometeu formalizar um acordo entre o laboratório Takeda e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para breve. “Já estamos no caminho. A data não vou divulgar agora para isso ser feito com precisão. Em breve, teremos anúncio e divulgação dos detalhes sobre a produção local (da vacina)”, anunciou a ministra durante entrevista à imprensa.
A ideia inicial é um acordo de transferência de tecnologia entre a Takeda e o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) com a produção exclusivamente voltada para o SUS. Nísia acrescentou que o governo estuda uma maneira de escalar laboratórios privados para apoiar a produção.
Durante a pandemia da Covid-19, a atual ministra da Saúde era presidente da Fiocruz e foi uma das responsáveis por costurar um acordo semelhante com a Universidade de Oxford e o laboratório Astrazeneca.

3 Cards_Galeria_de_Fotos (4)
A dengue é uma doença infecciosa transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti. Com maior incidência no verão, tem como principais sintomas: dores no corpo e febre alta. Considerada um grave problema de saúde pública no Brasil, a doença pode levar o paciente à morte
Joao Paulo Burini/Getty Images

***Foto-mosquito-da-dengue.jpg
O Aedes aegypti apresenta hábitos diurnos, pode ser encontrado em áreas urbanas e necessita de água parada para permitir que as larvas se desenvolvam e se tornem adultas, após a eclosão dos ovos, dentro de 10 dias
Joao Paulo Burini/ Getty Images

***Foto-mosquito-da-dengue-2.jpg
A infecção dos humanos acontece apenas com a picada do mosquito fêmea. O Aedes aegypti transmite o vírus pela saliva ao se alimentar do sangue, necessário para que os ovos sejam produzidos
Joao Paulo Burini/ Getty Images

***Foto-mosquito-da-dengue-3.jpg
No geral, a dengue apresenta quatro sorotipos. Isso significa que uma única pessoa pode ser infectada por cada um desses
micro-organismos e gerar imunidade permanente para cada um deles — ou seja, é possível ser infectado até quatro vezes
Bloomberg Creative Photos/ Getty Images

***Foto-pessoa-olhando-termometro.jpg
Os primeiros sinais, geralmente, não são específicos. Eles surgem cerca de três dias após a picada do mosquito e podem incluir: febre alta, que geralmente dura de 2 a 7 dias, dor de cabeça, dores no corpo e nas articulações, fraqueza, dor atrás dos olhos, erupções cutâneas, náuseas e vômitos
Guido Mieth/ Getty Images

***Foto-pessoa-deitada-em-maca-hospitalar.jpg
No período de diminuição ou desaparecimento da febre, a maioria dos casos evolui para a recuperação e cura da doença. No entanto, alguns pacientes podem apresentar sintomas mais graves, que incluem hemorragia e podem levar à morte
Peter Bannan/ Getty Images

***Foto-pessoa-em-frente-a-vaso-vomitando.jpg
Nos quadros graves, os sintomas são: vômitos persistentes, dor abdominal intensa e contínua, ou dor quando o abdômen é tocado, perda de sensibilidade e movimentos, urina com sangue, sangramento de mucosas, tontura e queda de pressão, aumento do fígado e dos glóbulos vermelhos ou hemácias no sangue
Piotr Marcinski / EyeEm/ Getty Images

***Foto-pessoa-sentada-em-cama-de-hospital.jpg
Nestes casos, os sintomas resultam em choque, que acontece quando um volume crítico de plasma sanguíneo é perdido. Os sinais desse estado são pele pegajosa, pulso rápido e fraco, agitação e diminuição da pressão
Image Source/ Getty Images

***Foto-pessoa-deitada-no-chao.jpg
Alguns pacientes podem ainda apresentar manifestações neurológicas, como convulsões e irritabilidade. O choque tem duração curta, e pode levar ao óbito entre 12 e 24 horas, ou à recuperação rápida, após terapia antichoque apropriada
Getty Images

***Foto-pessoa-segurando-remedio-nas-maos.jpg
Apesar da gravidade, a dengue pode ser tratada com analgésicos e antitérmicos, sob orientação médica, tais como paracetamol ou dipirona para aliviar os sintomas
Guido Mieth/ Getty Images

***Foto-pessoa-deitada-em-maca-hospitalar-2.jpg
Para completar o tratamento, é recomendado repouso e ingestão de líquidos. Já no caso de dengue hemorrágica, a terapia deve ser feita no hospital, com o uso de medicamentos e, se necessário, transfusão de plaquetas
Getty Images
0
Vacina do Butantan
Uma alternativa para ampliar a oferta de imunizantes é a vacina que está sendo desenvolvida pelo Instituto Butantan. O imunizante está na fase 3 do ensaio clínico, e os primeiros resultados da pesquisa com 16 mil participantes já foram publicados no The New England Journal of Medicine, revista científica de referência.
Os resultados mostraram uma eficácia geral de 79,6% após dose única. Para pessoas com histórico de infecção prévia pelo vírus, a resposta imune foi de 89,2%. Para os demais, 73,6%. A aplicação em dose única é considerada ideal para reduzir custos e facilitar a logística de vacinação.
De acordo com o Butantan, a pesquisa seguirá até junho deste ano, quando os voluntários completarão cinco anos de acompanhamento. Os dados de eficácia serão encaminhados à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no segundo semestre deste ano, dando início ao processo de solicitação de registro.
Até sexta-feira (8/3), o Brasil havia registrado 1.342.086 casos prováveis da doença, 363 mortes causadas pelo vírus estavam confirmadas e outras 763, em investigação. Desde o Carnaval, memes sobre o Aedes aegypti viralizavam nas redes em uma tentativa bem brasileira de usar o humor para tapear o medo.
Siga a editoria de Saúde no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!