Um grupo de pesquisadores do Brasil e Portugal desenvolveu uma esponja biodegradável capaz de liberar medicamentos lentamente no organismo. O produto pode tornar o tratamento da candidíase mais confortável e eficaz.
A esponja é feita de quitosana, um biopolímero proveniente da parte exterior do corpo de crustáceos. Altamente poroso, ele absorve grandes quantidades de medicamento antifúngico e o libera lentamente e na medida certa quando está em temperatura e pH adequados.
O funcionamento é semelhante ao do dispositivo intrauterino (DIU), usado há décadas como método contraceptivo. Uma das vantagens, segundo os pesquisadores, é que a própria paciente pode inserir a esponja no canal vaginal.
Outra vantagem é que a matéria-prima – quitosana e polivinil caprolacta – é biocompatível com as células do trato vaginal. Ela se transforma em um gel que se desfaz quando entra em contato com os fluidos vaginais. Assim, não há a necessidade de remoção da esponja após o tratamento.
A inovação foi descrita em um artigo científico assinado por pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), de São Paulo, e da Universidade do Porto, em Portugal. O trabalho foi publicado recentemente no International Journal of Pharmaceutics.
“Desenvolvemos uma esponja que alia o conforto de um material macio e de simples aplicação à eficácia dos medicamentos disponíveis”, afirma a pesquisadora do Departamento de Química da UFSCar (DQ-UFSCar) Fiama Martins, primeira autora do estudo, em entrevista à agência Fapesp.
O que é a candidíase?
A candidíase é uma infecção vaginal causada por diferentes fungos do gênero Candida. A condição incômoda causa coceira na região vaginal, dor, corrimento e vermelhidão nos genitais, comprometendo a qualidade de vida das pacientes.
Os fungos do gênero Candida fazem parte da flora natural do corpo humano e se proliferam rapidamente quando há um desequilíbrio no sistema de defesa do organismo. Eles gostam de ambientes quentes e úmidos, por isso podem se proliferar em áreas de dobras ou que são mais propensas ao acúmulo de umidade.

Tratamento
Os tratamentos disponíveis para candidíase nem sempre são confortáveis. Eles costumam ser feitos com cremes antibióticos e supositórios intravaginais de difícil aplicação. Além disso, a eficácia pode ser comprometida por eventuais atrasos no horário de aplicação.
“O estudo mostra que, ao criar novos dispositivos com propriedades biofarmacêuticas aprimoradas, podemos melhorar a aceitabilidade do tratamento pelo paciente, aspecto fundamental para a saúde pública”, conta o professor Emerson Rodrigues de Camargo, do Departamento de Química da UFSCar e coordenador do trabalho.
A primeira etapa da pesquisa foi feita em ensaios in vitro, com células do trato vaginal. O próximo passo será fazer testes clínicos com pacientes. Os pesquisadores querem avaliar o uso associado a outros tipos de medicamentos, como anti-inflamatórios e cicatrizantes, no tratamento de outras doenças.
Os pesquisadores acreditam que a tecnologia poderia ser usada para o preenchimento do vazio da cavidade ocular em casos de perda do olho. por exemplo, evitando que a musculatura facial enfraqueça e prejudique a mastigação, com o benefício de agregar medicamentos que previnem infecções.
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