Zapeando pelos aplicativos de relacionamento, é fácil encontrar perfis em que aparece a frase “busco alguém com terapia em dia“. Mas será que existe um ponto no tratamento em que o paciente está atualizado com a saúde mental, ou é uma expectativa irreal?
O psicólogo Jayme Pinheiro Rabello, que atende em Brasília, indica que a moda do “terapia em dia” é boa para consolidar a importância de se cuidar da saúde mental, mas pode esconder o outro lado da moeda, banalizando o processo terapêutico que raramente chega a estar de acordo com as metas.
“A função de um processo de psicoterapia é trazer qualidade de vida e os elementos envolvidos são voláteis. As pessoas estão usando a frase de maneira um pouco leviana: é uma compreensão do bem-estar de uma forma muito funcional”, indica o especialista.
Para a psicóloga Eduarda Rezende Freitas, professora dos programas de pós-graduação em Psicologia e Gerontologia da Universidade Católica de Brasília, a expressão também representa um vazio, já que a ideia de ter a terapia em dia não existe no processo psicoterapêutico.
“O mais correto seria dizer que está buscando alguém que se preocupa com a saúde mental ou mesmo quer ser uma pessoa melhor. Além do mais, fazer terapia não dá qualidades intrínsecas a ninguém. O processo terapeutico é para ajudar as pessoas a manejarem seus comportamentos disfuncionais e há quem o faça de diversas formas que não necessariamente passam por um consultório. O maior perigo é entender essa expressão ‘terapia em dia’ como sinônimo de uma pessoa saudável, funcional, feliz, um ótimo parceiro. A terapia não necessariamente dá isso”, aponta Eduarda.
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Terapia não cumpre agenda
A especialista aponta que ponderar os alcances limitados e progressivos da terapia é um cuidado que todos os profissionais devem ter ao tratar seus pacientes.
“O acompanhamento psicológico não é simplesmente dar um check em uma tarefa na agenda. Ele envolve muito mais engajamento, um processo de mudança complexo e muitas vezes dolorido. Se por um lado a gente está normalizando a importância da psicoterapia, por outro, temos que tomar cuidado pra evitar essa ideia de usar a psicoterapia como moeda de valor”, complementa.
Para muitos, a frase “terapia em dia” começou justamente a ter o efeito contrário, afastando pessoas que poderiam interessar o usuário.
“Quando alguém usa a terapia para se promover, esse indivíduo está buscando um ponto de autoafirmação, dizendo ‘eu sou um ser humano típico, cuido de mim, pode se aproximar’. Mas é uma tentativa desinformada. Claro que, comparado com um passado próximo de total rejeição à terapia, é positivo. É bom que as pessoas se interessem pela saúde mental — porém, falta entendê-la”, conclui Rabello.
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