“Parei no tempo”: o peso emocional que cuidadores informais carregam Ouvir 1 de novembro de 2025 Ana Cláudia dos Reis, 51 anos, sabe bem o que significa abrir mão da própria vida para cuidar de quem ama. Formada em Recursos Humanos e hoje trabalhando como vigilante, ela passou cinco anos se dedicando integralmente à avó, Isabel da Costa, diagnosticada com Alzheimer e demência aos 94 anos. No início, Isabel precisava apenas de atenção constante, mas logo perdeu a autonomia. Aos 95 anos, uma queda agravou o quadro e a deixou acamada por dois anos. “Ela não comia sozinha, não tomava banho sozinha. Eu cuidava de tudo — da higiene, da comida, das roupas, da casa. Por muitas vezes passava dias no hospital sem voltar para minha casa”, lembra Ana. Leia também Saúde Força! Entenda a importância do treino de pernas para idosos Na Mira Bombeiros buscam por idoso com Alzheimer que desapareceu em trilha Na Mira Asilo clandestino vira cenário de puro horror e idosos são resgatados Fábia Oliveira Abandono de idosos? Walcyr Carrasco esclarece rumores de nova novela A rotina extenuante fez com que ela deixasse o trabalho, o convívio social e até o autocuidado. “Eu sentia muita exaustão, não tinha tempo pra mim, às vezes esquecia até de tomar banho”, diz. A maioria dos familiares morava longe e os mais próximos não se dispuseram a ajudar. “Ou era eu, ou ela ficava sozinha”, lamenta. Mesmo com todas as renúncias, Ana carrega um sentimento de gratidão: “Eu já poderia estar aposentada, outras amigas estão. Parei no tempo, mas não me arrependo. Çembro que, mesmo ‘caduca’, trocando a fralda da minha avó, ela voltava à consciência e dizia: ‘A que ponto eu cheguei, minha filha!’ E eu respondia: ‘A senhora já cuidou tanto de mim, agora eu cuido da senhora’.” Isabel morreu aos 100 anos em 2020. Desde então, Ana voltou ao mercado de trabalho na tentativa de recuperar o tempo que passou em segundo plano A sobrecarga invisível A psicóloga Carmela Silvana da Silveira, da Santa Casa de São José dos Campos (SP), explica que casos como o de Ana são mais comuns do que se imagina. “Os cuidadores enfrentam sobrecarga emocional, ansiedade, pânico, insônia, angústia e uma grande preocupação. Eles perdem tempo de lazer e de autocuidado, sentindo um peso emocional considerável por cuidar intensamente do idoso”, aponta. Segundo ela, o esgotamento emocional é um dos principais riscos desse tipo de dedicação. O estresse crônico pode gerar ansiedade, depressão e desgaste físico, como dores e fadiga, prejudicando a saúde geral e a qualidade do cuidado oferecido. Entre os sinais de alerta, Carmela cita cansaço extremo, tristeza profunda, irritabilidade e isolamento social. “É como se o cuidador carregasse o mundo nas costas e não encontrasse espaço para si.” “Cuidar de si não é egoísmo” Para a psicóloga Carolina Batitucci, o impacto psicológico vai além do cansaço físico. Quando alguém se torna cuidador, não é só esforço prático que é oferecido. Existem mudanças profundas na relação com o outro e na percepção de si mesmo. No caso da Ana, o envelhecimento do familiar, por exemplo, confronta o cuidador com a própria finitude e pode gerar grande sofrimento emocional. A especialista lembra que o autocuidado costuma ser negligenciado por culpa e por uma cultura que associa exaustão à dedicação. “Cuidar não é simples. Há um trabalho real envolvido nessa tarefa, e é fácil se perder entre as demandas do outro e esquecer de cuidar de si. Nossa sociedade ainda vê o descanso como luxo, não como necessidade”, afirma. Carolina destaca que o estresse contínuo e a falta de pausas podem se manifestar em sintomas físicos, como fadiga, dores e doenças psicossomáticas. “A saída está em reconhecer limites e aceitar ajuda. Cuidar de si não é egoísmo, é o que permite continuar cuidando com qualidade”, diz. Famílias inteiras mudam de vida para cuidar de idosos e doentes Luto antecipado e solidão A psicóloga Samara Morais reforça que o sofrimento do cuidador é também emocional. “No caso de doenças crônicas e progressivas, como o Alzheimer, o cuidador vivencia um processo de luto antecipado. Ele assiste, gradualmente, à perda das capacidades e da identidade de alguém querido”, conta a profissional. Entre os sinais de esgotamento estão cansaço constante, alterações no sono, irritabilidade, isolamento e culpa. É comum o cuidador se sentir sobrecarregado e achar que está falhando por não conseguir dar conta de tudo. O apoio psicológico é essencial para reconstruir o equilíbrio. A terapia oferece um espaço seguro para o cuidador expressar sentimentos de culpa e exaustão, elaborar o luto e fortalecer os vínculos sociais. Isso ajuda a resgatar o sentido da própria vida, que muitas vezes fica suspensa enquanto se cuida do outro. As especialistas concordam que o cuidado com o cuidador deve ser visto como parte do processo de atenção aos necessitados. Como cuidar de quem cuida Reservar momentos diários para si mesmo, mesmo que breves, como caminhar ou ler. Aceitar ajuda de familiares e amigos — dividir tarefas reduz o esgotamento. Manter uma rotina estruturada, que inclua pausas e lazer. Participar de grupos de apoio. Buscar acompanhamento psicológico, que ajuda a lidar com culpa, fadiga e isolamento. “Dividir responsabilidades é essencial. Cuidar de quem cuida é também promover saúde para toda a família”, afirma Carmela. Ana Cláudia resume o sentimento que une milhares de cuidadores informais pelo país: “Foi cansativo, doloroso, mas eu faria tudo de novo. Ela cuidou de todos e foi cuidada com muito amor até o último minuto”, diz. Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto! Notícias
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