Por que cientistas tacham o açúcar de “o novo tabaco” Ouvir 13 de maio de 2025 O mundo deve seu fraco pela doçura à civilização árabe dos séculos sete e oito. Foi na recém-fundada cidade de Bagdá que começou a paixão por guloseimas e sorvetes açucarados, mingaus adoçados com mel, massas folhadas embebidas em xarope e doces. A própria palavra “açúcar” vem do árabe “sukkar”, que, em seguida às Cruzadas do século 11, os europeus importaram para o oeste. Na época, porém, os doces raramente eram saboreados como guloseima, sendo antes usados como estimulante, um remédio para o soninho do meio da tarde. Hoje o açúcar é onipresente: mais de 60% das comidas e bebidas vendidas nos supermercados dos Estados Unidos contêm açúcar adicionado – mesmo alimentos produtos supostamente saudáveis, como saladas, sopas e granolas. Ler os rótulos de certos alimentos chega a dar dor de dente: 100 mililitros da Coca-Cola americana contêm 10 gramas de açúcar; mesmo uma lata de sopa de tomate inclui de sete a oito colheres de chá. Assim, não é difícil entender como o norte-americano médio chega a consumir 17 colheres de açúcar adicionado por dia. A onipresença da substância é uma das grandes mudanças das dietas modernas por todo o mundo. Especialistas a culpam por diversas doenças comuns, inclusive as relacionadas à obesidade e ao diabetes. Leia também Saúde Chá anti-inflamatório diminui açúcar no sangue e ajuda o coração Saúde Diabetes: veja os 5 melhores chás pra controlar o açúcar no sangue Claudia Meireles Saiba como o consumo de açúcar pode gerar rugas e flacidez na pele Vida & Estilo Por que trocar o açúcar por adoçantes pode te fazer engordar Hiperconsumo: dependência química ou comportamental? Realmente, os indícios de que o açúcar causa dependência são numerosos. Maratonas de consumo compulsivo, uso às escondidas, sensação de privação, cansaço depois do pico de energia: todos esses são padrões comportamentais clássicos de drogadição. A neurociência mostra que o hiperconsumo crônico de açúcar altera as vias neuronais do cérebro, inclusive as relacionadas ao estresse, afetando a sinalização de dopamina. “Essas mudanças são paralelas às que se veem nos transtornos por uso de substâncias químicas, podendo contribuir para o ciclo de voracidade e hiperconsumo”, confirma a especialista em dependência alimentar Nicole Avena, do hospital Mount Sinai Morningside, de Nova York. Surpreendentemente, porém, não está definido se o açúcar é mesmo uma substância viciante, pois ele não age diretamente sobre as vias dopaminérgicas cerebrais da mesma forma que a nicotina ou a cocaína, por exemplo. Alguns cientistas defendem a teoria de que o hiperconsumo desencadeie dependência alimentar “sequestrando” o sistema dopaminérgico de recompensa. Para outros, como o psiquiatra Octavian Vasiliu, da Universidade Carol Davila, de Bucareste, Romênia, “o responsável pela adição é unicamente o gosto agradável das comidas doces, não seu alto conteúdo de açúcares”. Portanto, o elemento causador de dependência não seria o açúcar, em si, mas a sensação de recompensa que ingeri-lo transmite – o que é diferente do efeito direto sobre os centros de recompensa do cérebro comum às substâncias altamente viciantes. Por isso, há quem classifique o hiperconsumo de açúcar – assim como, em geral, as diversas formas de vício alimentar – como dependência comportamental, não química. Dependência ou não, um mal para a saúde As neurocientistas Selena Bartlett e Kerri Gillespie, da Universidade de Queensland, Austrália, frisam a importância de compreender por que se cai em padrões de hiperconsumo e dependência, pois “o consumo de açúcar está profundamente entrelaçado com a regulação emocional”. A substância “afeta o cérebro de maneiras conducentes a hábitos pouco saudáveis, sobretudo para quem está estressado ou teve experiências difíceis no começo da vida”. É sabido que estresse emocional pode provocar obsessão por doces – possivelmente devido à necessidade do cérebro de acalmar os sentimentos depressivos. No longo prazo, depressão e ansiedade podem, de fato, contribuir para a voracidade por açúcar, resultando numa forma de adição. “A pesquisa também indica que o estresse na primeira infância pode treinar o cérebro a procurar alimentos superapetitosos, como o açúcar”, complementam Bartlett e Gillespie. Dependências não são necessariamente problemáticas: só se a substância em questão também for danosa. E esse é o caso do hiperconsumo do açúcar, afirma Vasiliu: independente de provocar aumento de peso ou não, ele é “extremamente perigoso para a saúde”. Ele é a causa de cáries, fadiga constante, diabetes, obesidade e distúrbios cardiovasculares, entre outros. Considera-se excessivo mais de seis colheres de chá de açúcar por dia, para as mulheres, ou nove para os homens Há décadas, a ciência vem estudando como, precisamente, o excesso de alimentos doces modifica o organismo. “Um estudo concluiu que quem ingeria quatro ou mais refrigerantes por semana tinha duas vezes mais probabilidade de sentir-se deprimido, comparado com quem bebia menos de um”, exemplificam as neurocientistas Bartlett e Gillespie. Constataram-se ainda conexões com cânceres, transtornos neurológicos e demência, como a doença de Alzheimer. 14 imagens Fechar modal. 1 de 14 A diabetes é uma doença que tem como principal característica o aumento dos níveis de açúcar no sangue. Grave e, durante boa parte do tempo, silenciosa, ela pode afetar vários órgãos do corpo, tais como: olhos, rins, nervos e coração, quando não tratada Oscar Wong/ Getty Images 2 de 14 A diabetes surge devido ao aumento da glicose no sangue, que é chamado de hiperglicemia. Isso ocorre como consequência de defeitos na secreção ou na ação do hormônio insulina, que é produzido no pâncreas moodboard/ Getty Images 3 de 14 A função principal da insulina é promover a entrada de glicose nas células, de forma que elas aproveitem o açúcar para as atividades celulares. A falta da insulina ou um defeito na sua ação ocasiona o acúmulo de glicose no sangue, que em circulação no organismo vai danificando os outros órgãos do corpo Peter Dazeley/ Getty Images 4 de 14 Uma das principais causas da doença é a má alimentação. Dietas ruins baseadas em alimentos industrializados e açucarados, por exemplo, podem desencadear diabetes. Além disso, a falta de exercícios físicos também contribui para o mal Peter Cade/ Getty Images 5 de 14 A diabetes pode ser dividida em três principais tipos. A tipo 1, em que o pâncreas para de produzir insulina, é a tipagem menos comum e surge desde o nascimento. Os portadores do tipo 1 necessitam de injeções diárias de insulina para manter a glicose no sangue em valores normais Maskot/ Getty Images 6 de 14 Já a diabetes tipo 2 é considerada a mais comum da doença. Ocorre quando o paciente desenvolve resistência à insulina ou produz quantidade insuficiente do hormônio. O tratamento inclui atividades físicas regulares e controle da dieta Artur Debat/ Getty Images 7 de 14 A diabetes gestacional acomete grávidas que, em geral, apresentam histórico familiar da doença. A resistência à insulina ocorre especialmente a partir do segundo trimestre e pode causar complicações para o bebê, como má formação, prematuridade, problemas respiratórios, entre outros Chris Beavon/ Getty Images 8 de 14 Além dessas, existem ainda outras formas de desenvolver a doença, apesar de raras. Algumas delas são: devido a doenças no pâncreas, defeito genético, por doenças endócrinas ou por uso de medicamento Guido Mieth/ Getty Images 9 de 14 É comum também a utilização do termo pré-diabetes, que indica o aumento considerável de açúcar no sangue, mas não o suficiente para diagnosticar a doença GSO Images/ Getty Images 10 de 14 Os sintomas da diabetes podem variar dependendo do tipo. No entanto, de forma geral, são: sede intensa, urina em excesso e coceira no corpo. Histórico familiar e obesidade são fatores de risco Thanasis Zovoilis/ Getty Images 11 de 14 Alguns outros sinais também podem indicar a presença da doença, como saliências ósseas nos pés e insensibilidade na região, visão embaçada, presença frequente de micoses e infecções Peter Dazeley/ Getty Images 12 de 14 O diagnóstico é feito após exames de rotina, como o teste de glicemia em jejum, que mede a quantidade de glicose no sangue. Os valores de referência são: inferior a 99 mg/dL (normal), entre 100 a 125 mg/dL (pré-diabetes), acima de 126 mg/dL (Diabetes) Panyawat Boontanom / EyeEm/ Getty Images 13 de 14 Qualquer que seja o tipo da doença, o principal tratamento é controlar os níveis de glicose. Manter uma alimentação saudável e a prática regular de exercícios ajudam a manter o peso saudável e os índices glicêmicos e de colesterol sob controle Oscar Wong/ Getty Images 14 de 14 Quando a diabetes não é tratada devidamente, os níveis de açúcar no sangue podem ficar elevados por muito tempo e causar sérios problemas ao paciente. Algumas das complicações geradas são surdez, neuropatia, doenças cardiovasculares, retinoplastia e até mesmo depressão Image Source/ Getty Images Como se livrar do vício Existem métodos comprovados de se libertar do açúcar, mas costuma ser necessário atacar em várias frentes simultaneamente. Uma possibilidade são intervenções como a terapia cognitiva-comportamental (TCC), que ajuda a identificar e modificar padrões de conduta compulsiva, inclusive na alimentação. “Estratégias nutricionais – como reduzir os açúcares gradualmente, a fim de evitar sintomas de abstinência, aumentar a ingestão e proteína e fibras para regular os níveis glicêmicos, e planejamento de refeições estruturado – podem também ser eficazes”, sugere Avena. No entanto, o açúcar tem sido apelidado “o novo tabaco”: poucos são capazes de vencê-lo sozinhos. Vasiliu considera crucial os governos interferirem para “aumentar a disponibilidade de alimentos saudáveis e reduzir a publicidade excessiva de ultraprocessados”. Impostos sobre o açúcar parecem ser um meio eficiente de conter a compra de comidas e bebidas açucaradas: um aumento de 33% sobre a taxação de refrigerantes doces em quatro estados americanos refletiu-se numa queda das vendas de 33%. Em 2018, o governo britânico impôs um imposto em dois patamares, de acordo com a percentagem de açúcar adicionado. Os fabricantes de refrigerantes reagiram reduzindo o acréscimo, resultando numa redução do consumo geral de açúcar. A estratégia nem sempre funciona: também no México introduziu-se um imposto do açúcar sobre os refrigerantes, porém o público simplesmente passou para os sucos de frutas – também altamente açucarados, porém isentos da taxa. Segundo especialistas, a taxação seria mais eficaz se fosse mais pesada e se aplicasse a todos os produtos superdoces, não só aos refrigerantes. Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto! Notícias
OMS inclui pela 1ª vez semaglutida na lista de medicamentos essenciais 5 de setembro de 2025 A Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu pela primeira vez os medicamentos análogos ao GLP-1— como a semaglutida, presente no Ozempic, e a liraglutida — em sua lista Modelo de Medicamentos Essenciais, atualizada nesta sexta-feira (5/9). A inclusão, no entanto é restrita ao tratamento de adultos com diabetes tipo 2… Read More
Notícias Os Benefícios dos Alimentos Fermentados para a Saúde 13 de agosto de 202513 de agosto de 2025 Introdução Os alimentos fermentados têm sido consumidos por milhares de anos, oferecendo não apenas uma forma de conservar alimentos, mas também proporcionando uma rica fonte de nutrientes e benefícios para a saúde. A fermentação é um processo natural que envolve a ação de microorganismos, como bactérias e leveduras, que transformam… Read More
Mulher recupera visão após cirurgia com implante de dente no olho 16 de agosto de 2025 Gail Lane, de 75 anos, viveu sem enxergar por dez anos devido a danos severos nas córneas provocados por um distúrbio autoimune. A canadense recuperou parte da visão e pôde voltar a ver o marido e o cachorro depois de passar por uma cirurgia complexa que implantou seu dente no olho. O procedimento,… Read More