As mesmas moléculas usadas para diagnosticar um câncer em exames como a cintilografia e o PET-CT também estão sendo empregadas no tratamento da doença. Batizado de ‘teranóstico’, esse conceito que combina as palavras terapia e diagnóstico é o tema central do Congresso Brasileiro de Medicina Nuclear, que ocorrerá no final de setembro, em Pernambuco.
Tradicionalmente, essa especialidade médica utiliza radiofármacos, que são moléculas combinadas com elementos radioativos e que são captadas por órgãos ou lesões, tanto para fins de diagnóstico quanto de tratamento de doenças. Quando injetados no paciente, elas não apenas revelam a forma, mas também o funcionamento de órgãos como o coração, cérebro, tireoide, rins, fígado e pulmões, o que possibilita a identificação de condições que variam desde embolia pulmonar até infartos, doenças renais, câncer e a doença de Alzheimer.
Além disso, esses radiofármacos também são empregados no tratamento de condições como o hipertireoidismo e o câncer de tireoide, entre outros.

O câncer de tireoide é um tipo de tumor que, na maior parte dos casos, tem cura quando o tratamento é iniciado precocemente, sendo importante estar atento aos sintomas que possam indicá-lo
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A tireoide é uma glândula em forma de borboleta, que fica localizada na parte anterior do pescoço, logo abaixo da região conhecida como Pomo de Adão (ou popularmente, gogó)
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Ela age na função de órgãos importantes como o coração, cérebro, fígado e rins. Interfere também no crescimento e desenvolvimento das crianças e adolescentes, na regulação dos ciclos menstruais, no peso, na memória e no controle emocional
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Um dos problemas mais frequentes da tireoide são os nódulos, que não apresentam sintomas. Estima-se que 60% da população brasileira tenha nódulos na tireoide em algum momento da vida. Porém, apenas 5% dos nódulos são cancerígenos
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O reconhecimento deste nódulo precocemente pode salvar a vida da pessoa e a palpação da tireoide é fundamental para isso. Uma vez identificado o nódulo, o endocrinologista solicitará uma série de exames complementares para confirmar a presença ou não do câncer
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Além do nódulo ou caroço no pescoço, que normalmente cresce rapidamente, outros sintomas podem indicar a existência de um câncer na tireoide. Por isso, é preciso atentar-se ao inchaço no pescoço e dor na parte da frente da garganta, que pode irradiar para os ouvidos
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Além disso, o paciente pode apresentar rouquidão ou alterações na voz, dificuldade para respirar e tosse constante que não acompanha sintomas de gripe ou resfriado. Outro sintoma identificado é a dificuldade para engolir ou sensação constante de algo preso na garganta
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Embora este tipo de câncer seja mais comum a partir dos 45 anos de idade, sempre que surgir algum destes sintomas, sendo o mais comum o nódulo ou caroço no pescoço, é recomendado consultar um médico especialista
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O diagnóstico normalmente é feito após realização de ultrassonografia do pescoço. De acordo com as características do nódulo, é feita punção aspirativa, por meio da qual pode ser confirmado o diagnóstico de câncer
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O tratamento do câncer de tireoide é cirúrgico. A tireoidectomia (retirada da tireoide) total ou parcial (em casos indicados) é o tratamento de escolha. Também pode haver a necessidade de complementação terapêutica com iodo radioativo
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No caso do “teranóstico”, a mesma molécula é ligada a dois tipos de elementos radioativos, com diferentes objetivos: um faz o diagnóstico e outro é usado no tratamento da doença. “A partir do exame de imagem podemos triar o paciente e saber se ele vai responder ao tratamento”, explica a médica nuclear Lilian Yamaga, do Departamento de Imagem do Hospital Israelita Albert Einstein.
Resultados promissores
Recentemente, a técnica tem demonstrado resultados promissores em pacientes com câncer de próstata que não responderam a outros tratamentos.
Nestes casos, o processo começa com o diagnóstico, que utiliza uma molécula presente em maior quantidade na membrana das células desse tumor, conhecida como PSMA. Essa molécula é ligada a um material radioativo e é captada pelo tumor, revelando suas características e localização. Em seguida, com base nessas informações, a mesma molécula é associada a outro elemento radioativo que tem o poder de destruir as células cancerosas.
“A vantagem é poder levar a radiação ao local exato do tumor em qualquer lugar do corpo e na quantidade necessária, até nos casos em que o tumor está espalhado, buscando evitar ao máximo atingir células saudáveis”, explica Paulo Rosado, diretor científico da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear. “Ela pode causar menos efeitos colaterais do que outras terapias, aumenta a qualidade de vida e a sobrevida desses pacientes, se tornando mais uma arma no arsenal de tratamento.”
Segundo Yamaga, é um tratamento sistêmico, bem direcionado, capaz de levar o remédio certo ao local exato. “Conseguimos bons resultados em casos que não respondiam bem ao tratamento oncológico padrão.”
Novas molecúlas
Com a descoberta de novas moléculas, espera-se o desenvolvimento de terapias cada vez mais personalizadas para diferentes tipos de tumores. É importante ressaltar que a quantidade de radiação utilizada nos exames diagnósticos é muito pequena. Tanto os exames quanto os tratamentos com radiofármacos são procedimentos seguros, sendo raros os eventos adversos.
“Nosso desafio agora é ampliar o acesso a esses exames e tratamentos, pois nem todos constam nos procedimentos aprovados no SUS [Sistema Único de Saúde] e na saúde suplementar, bem como priorizar investimentos para garantir a produção dos insumos necessários”, diz Rosado. (Fonte: Agência Einstein)
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