Especialistas explicam como o corpo responde aos traumas e estresse Ouvir 24 de novembro de 2025 Embora muita gente associe trauma a um grande acontecimento — como um acidente, violência ou perda abrupta — a ciência tem mostrado que o sofrimento emocional também pode nascer de forma microscópica, silenciosa e contínua. É o chamado trauma invisível, um acúmulo de microestressores diários e microagressões que se instalam no corpo sem que a pessoa perceba, moldando comportamentos, adoecendo o organismo e afetando a saúde mental. O psiquiatra André Botelho, coordenador do setor de psiquiatria do Hospital Sírio-Libanês, explica que esse tipo de trauma surge de pequenas experiências repetidas que parecem inofensivas isoladamente, mas que se acumulam como gotas constantes sobre o sistema emocional. Segundo ele, “esses microataques cotidianos vão se depositando no psiquismo sem que a pessoa consiga elaborar a experiência, gerando marcas invisíveis que fragilizam o funcionamento emocional”. Para o médico, é justamente essa continuidade silenciosa que desgasta a capacidade de adaptação ao estresse. Leia também Saúde Jovem de 23 anos perde todo o cabelo após crise de estresse no trabalho Saúde Chá anti-inflamatório ajuda a aliviar sintomas de ansiedade e estresse Vida & Estilo Ciência comprova: ter um pet diminui o estresse e alivia a ansiedade Vida & Estilo Tensão e estresse podem ser aliviados com bebida natural; veja qual Como o cérebro reage aos microtraumas No cérebro, frustrações pequenas são suficientes para acionar o sistema de ameaça, responsável por respostas rápidas de luta ou fuga. Quando a autocrítica se torna hábito, o cérebro interpreta esse discurso interno como um agressor permanente. Botelho lembra que o cérebro não distingue totalmente ameaças externas das internas, e a autocrítica rígida funciona como um perseguidor. Assim, o sistema permanece acionado mesmo sem risco real, alterando o ritmo natural do cortisol e contribuindo para ansiedade, fadiga, irritabilidade e queda da imunidade. Esse estado de alerta contínuo favorece processos de neuroinflamação, condição em que células de defesa passam a liberar substâncias inflamatórias que afetam tanto o corpo quanto o sistema nervoso. Segundo especialistas, citocinas como IL-6 e TNF-α podem atravessar a barreira hematoencefálica e interferir em energia, memória e humor. A psicóloga Carmela Silvana da Silveira, da Santa Casa de São José dos Campos, explica que microestressores cotidianos vão aumentando a carga de tensão no cérebro sem que o indivíduo perceba, e isso cria um ciclo invisível de desgaste que se manifesta no corpo. A pele também costuma sofrer com esse processo, já que é um dos órgãos mais sensíveis às emoções. Crises de coceira, urticária, piora de alergias e dermatites podem surgir ou se intensificar. Botelho observa que a pele funciona como uma fronteira onde o sofrimento não simbolizado muitas vezes se expressa, traduzindo em sintomas físicos aquilo que ainda não conseguiu virar palavra. Antes que a pessoa reconheça que está sobrecarregada, o corpo costuma emitir sinais físicos como palpitações, náuseas, tensão muscular e alterações intestinais. “O corpo geralmente percebe o sofrimento antes da consciência, porque muitas emoções são processadas primeiro em sensações”, reforça Carmela. Urticária pode ser um dos sinais de que corpo está acumulado de estresse Intestino, metabolismo e comportamento também sofrem O intestino, chamado de “segundo cérebro”, é especialmente sensível ao traume invisível. Alterações na motilidade, permeabilidade intestinal, sensibilidades viscerais e disbiose podem surgir quando o estresse se torna regra. Isso explica o aumento de quadros como gastrite nervosa, intestino irritável e desconfortos sem causa aparente, que são expressões somáticas de tensões emocionais acumuladas. Na dimensão psicológica, o trauma invisível também molda comportamentos. O psicólogo Douglas Kawaguchi, professor da Faculdade Sírio-Libanês, explica que a autossabotagem é um dos efeitos desse processo. “O corpo aprende por repetição e passa a generalizar ambientes ou situações como ameaçadores, mesmo quando não há risco real. O padrão emocional, antes inconsciente, acaba afastando a pessoa de oportunidades, relações ou tarefas importantes”, explica. Kawaguchi lembra ainda que grupos vulneráveis — como crianças, adolescentes, pessoas minorizadas socialmente ou com pouco suporte emocional — são mais afetados. Eles não só sofrem microagressões com maior frequência, como têm menos recursos para processá-las, o que torna a resposta corporal mais intensa. A medicina e a psicologia já conseguem identificar marcadores biológicos que refletem estresse contínuo, como alterações hormonais, inflamatórias e metabólicas. Esse processo pode agravar resistência à insulina, compulsão alimentar, ganho de peso, disfunções menstruais e problemas sexuais, porque mantém o sistema de alerta acionado além do necessário. Quando buscar ajuda e como romper o ciclo Apesar disso, sintomas psicossomáticos não devem ser confundidos com exagero. Para Kawaguchi, eles são tão reais quanto os físicos, embora não tenham uma causa orgânica evidente. Por isso, a prática clínica recomenda investigar primeiro causas médicas e, depois, avaliar fatores emocionais, o que facilita um diagnóstico mais preciso. O tratamento envolve duas frentes: aliviar sintomas e trabalhar a origem emocional. Meditação, práticas de compaixão, vínculos saudáveis, organização da rotina e hábitos de saúde ajudam a reduzir o impacto imediato, mas não substituem o trabalho profundo de reconstrução emocional. Psicoterapia — seja somática, existencial, analítica ou integrativa — é essencial para reorganizar padrões e dar nome às experiências que permaneceram silenciosas. O sinal de alerta para buscar ajuda surge quando a vida cotidiana começa a perder funcionalidade. Dores recorrentes, inflamações, insônia, irritabilidade, sensação de inferioridade, medo sem motivo, falta de energia, sintomas físicos sem explicação médica e impactos no trabalho ou nas relações são indícios de que o corpo já está pedindo socorro. No fim, os traumas invisíveis são silenciosos, mas não são pequenos. Eles inflamam, desregulam e atravessam o corpo de maneiras diversas. Reconhecê-los, validar seus efeitos e buscar suporte adequado é o primeiro passo para romper o ciclo e reconstruir uma forma mais leve e real de existir. Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto! Notícias
Notícias Estudo: toxina de escorpião da Amazônia mata células do câncer de mama 18 de junho de 2025 Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) descobriram no veneno de um escorpião natural da Amazônia uma molécula com ação semelhante à de um remédio usado no combate ao câncer de mama. Os resultados preliminares foram obtidos em testes com células isoladas in vitro. Os testes iniciais, realizados na Faculdade… Read More
Veja 10 frutas que ajudam a emagrecer e quantas calorias cada uma tem 21 de novembro de 2025 O processo de emagrecer não costuma ser nada fácil. E, por isso, surgem diversas receitas milagrosas na internet para ajudar a eliminar uns quilos na balança. No entanto, quem deseja perder peso de maneira eficiente e definitiva deve, antes de mais nada, prezar pela saúde. Nesse sentido, o consumo de… Read More
Notícias Sucesso na internet: confira os benefícios da planta ora-pro-nóbis 12 de junho de 2024 A ora-pro-nóbis, uma das plantas alimentícias não convencionais mais populares do Brasil, é rica em proteínas, fibras, ferro e cálcio. O uso dela também contribui para o bom funcionamento do organismo e para a prevenção de doenças. A planta pode ser utilizada de diversas maneiras na culinária, aproveitando suas propriedades… Read More