Férias atípicas: como crianças autistas podem seguir rotina sem escola Ouvir 14 de dezembro de 2025 Para uma pessoa neurodivergente, é fundamental manter uma rotina planejada para diminuir o risco de crises. Essa preocupação é ainda maior para as crianças autistas, que apresentam estresse e ansiedade quando têm mudanças na agenda de atividades. Durante as férias escolares e os recessos de fim de ano de terapeutas, fica um vácuo que pode causar problemas para os pequenos atípicos. A dica dos especialistas é continuar estimulando as crianças para manter o progresso das terapias mesmo sem a rotina de atendimentos e o dia a dia de aulas. A neuropsicopedagoga Silvia Kelly Bosi, de 47 anos, criou uma estratégia para continuar mantendo sua filha, Valentina, autista nível 1 de suporte, estimulada durante as férias. Segundo ela, o período de recessos transforma intensamente a rotina da família. “Nós reorganizamos a rotina da casa inteira. Dividimos as responsabilidades, ajustamos horários de trabalho e priorizamos os momentos-chave do dia. Trazemos a Valentina para dentro da rotina doméstica, e isso fortalece a autonomia dela”, explica ela. “Nas férias, a rotina da Valentina muda principalmente pela quebra da previsibilidade: horários diferentes, mais tempo em casa, mudanças nos ambientes e menos estrutura. Para crianças autistas, isso pode gerar ansiedade, irritabilidade e dificuldade de autorregulação. A previsibilidade funciona como proteção emocional”, destaca a mãe, que também é especialista em autismo. Leia também Tácio Lorran Ministério da Saúde não sabe número nem perfil de autistas no SUS Brasil Jovem autista cria IA de mapeamento genético para diagnósticos raros Saúde Paracetamol na gravidez não aumenta risco de autismo, confirma estudo Saúde Autismo profundo: entenda a polêmica que quer separar transtorno grave Desafio da mudança de rotina para autistas Para reduzir o impacto da nova rotina das férias, Silvia recorre a recursos que ajudam Valentina a compreender o fluxo do dia, a passagem de tempo, mesmo distante do ambiente escolar, mantendo horários. Ela reconstrói, no lar, a sensação de ordem que a menina reconhece e que serve como base para sua segurança. “Mantenho uma rotina visual simples, com desenhos ou fotos indicando o que vai acontecer. Pequenos rituais, como a mesma música ao acordar, o mesmo livrinho antes do descanso, sustentam essa previsibilidade”, afirma a neuropsicopedagoga. Além da estrutura visual e dos rituais, Silvia observa que as necessidades fisiológicas da filha influenciam diretamente seu equilíbrio emocional. “Sono e alimentação são pilares da regulação neurológica. Se esses horários mudam demais, a Valentina fica mais cansada, mais sensível e com menor tolerância às frustrações. Manter regularidade ajuda o cérebro a entender o ritmo do dia e diminui crises”, aponta Silvia. 4 imagensFechar modal.1 de 4 Valentina é estimulada em atividades como cozinhar e passear mesmo no período de férias Reprodução/Arquivo pessoal2 de 4 Sílvia ao lado da filha Valentina, que é autista nível 1 de suporte Reprodução/Arquivo pessoal3 de 4 A família tabém faz atividades sensoriais para estimular o desenvolvimento da menina Reprodução/Arquivo pessoal4 de 4 Valentina também faz exercícios durante as férias Reprodução/Arquivo pessoal Como aproveitar as férias com crianças atípicas? Com a escola pausada, Silvia aprendeu a ocupar o tempo de forma leve e funcional, sempre respeitando o ritmo de Valentina. “Incluo atividades simples, como brincadeiras motoras, jogos de turno, pintura, leitura e tarefas de vida diária. Não quero encher o dia, mas oferecer oportunidades de aprendizagem dentro da nossa rotina. As férias precisam respeitar o descanso, sem perder o ritmo que a ajuda a se regular”, destaca. A ideia seguida por Silvia é apoiada por outros especialistas. O que está em jogo é um equilíbrio, sem abandonar as atividades terapêuticas ou ocupar o tempo em excesso. É preciso estar presente na rotina da criança, criando espaços de descanso e convivência, mas sem sobrecarga. “As férias são um momento primordial para que a criança passe mais tempo com cuidadores ou outros familiares. Além disso, é também um período para explorar e estimular os interesses e vontades da criança. É possível aproveitar situações em que a criança pode se expor a diferentes estímulos, desde que respeitando suas sensibilidades e cuidando para que ela tenha maior previsibilidade do que pode acontecer, além de ter estratégias fáceis para auxiliar na autorregulação, caso algo saia do esperado”, aconselha a psicóloga Thalita Possmoser, da Genial Care. Atividades para fazer com crianças atípicas nas férias Thalita indica cinco atividades para aproveitar melhor as férias com as crianças, confira! Atividades sensoriais: exercícios com massinha e argila podem ser uma escolha adequada, desde que a criança demonstre interesse e não se sinta desconfortável. Explorar jardins sensoriais, desfrutar de piscinas aquecidas ou de bolinhas também são opções interessantes. Cozinhando em família: a preparação de alimentos pode se tornar algo divertido ao propor brincadeiras que envolvam a adivinhação de sabores. Por exemplo, a criança pode fechar os olhos e tentar identificar qual alimento está provando ou reconhecer o sabor específico, como doce, salgado ou azedo. Passeios ao ar livre ou atividades culturais: ir a parques, praças, jardins e praias oferece uma excelente alternativa de interessantes estímulos visuais, táteis e auditivos. Respeite, porém, as limitações que seu filho apresentar. Visitar museus ou centros de pesquisa também pode ser uma boa pedida. Interação com animais: a interação entre crianças com transtorno do espectro autista (TEA) e animais promove a expressão afetiva e a manifestação de emoções. A visita a locais como aquários, abrigos e sítios pode ser extremamente enriquecedora para as crianças, sempre considerando, é claro, o limite individual. Férias sem retrocesso No caso das crianças que ainda estão em intervenção fonoaudiológica, a pausa pode gerar insegurança nos pais. A fonoaudióloga maranhense Angelika dos Santos Scheifer, especialista em atraso de fala, afirma que o recesso não precisa representar retrocesso. “A comunicação pode ser estimulada de maneira leve e natural, sem transformar a casa em consultório. Conversar mais, nomear objetos, cantar músicas e seguir a orientação que a equipe terapêutica já vinha aplicando são atitudes simples que ajudam a manter o vínculo com a linguagem”, destaca Angelika. A fonoaudióloga ressalta que o maior erro desse período é deixar a criança totalmente sem estímulos estruturados e evitar sua participação em festas de fim de ano e passeios em família. “É importante respeitar o descanso, mas não abandonar completamente aquilo que vinha funcionando. O ideal é seguir com microatividades diárias, sem pressão, mantendo contato frequente com experiências comunicativas e tornando a criança participante das atividades da família”, conclui. 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