O Instituto Butantan anunciou a retomada do projeto de desenvolvimento de uma vacina contra o zika vírus (ZIKV) após concentrar esforços no combate à Covid-19. A previsão é que os testes com animais se iniciem em agosto de 2024, com a expectativa de dar início aos estudos clínicos em humanos aproximadamente dois anos depois.
Segundo Renato Mancini Astray, diretor do Laboratório Multipropósito do Instituto Butantan e um dos líderes do projeto, o início dos testes depende de fatores como a epidemiologia da doença. “Se ela provoca um surto no próximo ano, podemos ter uma aceleração. Se desaparece, o interesse pode diminuir”, explica, em comunicado à imprensa.
O desenvolvimento da vacina contra o zika começou em 2017, mas os esforços foram direcionados à Covid-19 de 2020 até metade deste ano. Apesar de ainda estar em fase inicial, a expectativa em relação ao novo imunizante é positiva.
“Como o principal público-alvo seriam mulheres grávidas, a vacina contra zika precisa ter um perfil de segurança muito alto. A confiabilidade desses processos é grande, tanto em termos científicos como no aspecto regulatório”, afirma o diretor.
O zika vírus pode causar microcefalia em bebês de mães infectadas durante a gestação e ainda não existe prevenção contra a doença. Além de causar má formação neurológica no feto, o vírus pode ter efeito abortivo e desencadear alterações celulares no feto.
Sem o vírus em circulação, não é possível fazer ensaios clínicos de eficácia (fase 3) para avaliar se os vacinados ficam menos doentes do que os não vacinados – outro motivo para o estudo estar em estágio inicial.

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Dengue, Zika e Chikungunya são doenças cujos nomes são conhecidos no Brasil. Os três vírus transmitidos pelo mesmo mosquito, o Aedes aegypti, têm maior incidência no país em períodos de chuva e calor, e apresentam sintomas parecidos, apesar de pequenas sutilezas os diferenciarem
Joao Paulo Burini

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Febre, dor no corpo e manchas vermelhas são sintomas comuns de todas as doenças. Apesar disso, a forma distinta como evoluem, a duração dos sintomas e o grau de complicação são algumas das diferenças entre elas
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Estar atento aos sinais e saber identificar as distinções é importante para um diagnóstico e tratamento precisos, pois, apesar do que se pensa, essas doenças são perigosas e podem matar
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Na dengue, os sinais e sintomas duram entre dois e sete dias. As complicações mais frequentes, além das já mencionadas, são dor abdominal, desidratação grave, problemas no fígado e neurológicos, além de dengue hemorrágica
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Além disso, dores atrás dos olhos e sangramentos nas mucosas, como a boca e o nariz, também podem acontecer em pacientes que contraem a dengue
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Os sintomas da zika são iguais aos da dengue, só que a infecção não costuma ser tão severa e passa mais rápido. Há, no entanto, um complicador caso a pessoa infectada esteja grávida
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Nestas situações, a doença pode prejudicar o bebê em formação causando microcefalia, alterações neurológicas e/ou síndrome de Guillain-Barré, no qual o sistema nervoso passa a atacar as células nervosas do próprio organismo
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Já os sintomas da chikungunya duram até 15 dias e, segundo especialistas, provoca mais dores no corpo, entre as três doenças
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Assim como a infecção pela zika, a chikungunya pode resultar em alterações neurológicas e síndrome de Guillain-Barré
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Apesar de não existirem tratamentos para as doenças, há medicamentos que podem aliviar os sintomas, bem como a indicação de repouso total. Além disso, aspirinas não devem ser utilizadas, pois podem piorar o quadro do paciente
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Caso haja suspeita de infecção por qualquer um dos vírus, é importante ir ao hospital para identificar do que se trata e, assim, iniciar o tratamento adequado o mais rápido possível
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O Aedes aegypti é um mosquito que se aproveita de lixo espalhado e locais mal cuidados e é favorecido pelo calor e pela chuva. Por isso, impedir a presença de água parada em sua casa, rua e empresa é o suficiente para travar a proliferação do inseto
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Como a vacina é feita
O processo de produção do imunizante funciona da seguinte forma: as células são cultivadas em frascos, multiplicadas em biorreator e inoculadas com o vírus; depois, o material é filtrado para eliminar contaminantes celulares.
O passo seguinte é a inativação do vírus, utilizando um reagente químico clássico, e depois ocorre a purificação. Por fim, o vírus inativado e purificado é concentrado e formulado. O produto final pode ser armazenado em refrigeração comum (2°C a 8°C).
Para chegar às duas formulações adequadas, foram testadas mais de 60 diferentes composições nos últimos anos. Nesse momento, os pesquisadores trabalham na versão final que será encaminhada para estudos pré-clínicos.
Com a formulação estabelecida por enquanto, o produto tem uma estabilidade de 100% por pelo menos quatro meses e atividade comprovada por até oito meses. A composição final envolve a adição do adjuvante antes do envasamento nos frascos de vacina, etapa que tende a melhorar ainda mais o perfil de estabilidade do produto.
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