Compostos para regulação do humor: O que a ciência diz? Ouvir 24 de outubro de 2023 A dieta como parte da modificação do estado mental tem recebido atenção, bem como os nutrientes e compostos bioativos. Estudos observacionais indicam a associação entre composição da dieta e o risco de desenvolver transtornos do humor (ansiedade, estresse e depressão, por exemplo). É conhecido também que os componentes da dieta são fundamentais para a formação ou função de diversos neurotransmissores, tais como: serotonina, adenosina, dopamina e GABA (ácido gama-aminobutírico). Abaixo estão descritos alguns compostos da dieta e sua influência na regulação do humor [1]. L-triptofano Estudos pré-clínicos e clínicos têm demonstrado que baixas concentrações de L-triptofano estão associadas à diminuição de serotonina no cérebro e aos distúrbios do humor. Além disso, uma meta-análise abrangente com mais de cinquenta estudos de depleção de triptofano desde 1966 até 2008 observou os efeitos da depleção aguda de triptofano no processo psicomotor, memória declarativa, memória de trabalho, execução de funções e atenção, a informação mais robusta foi que a redução de triptofano prejudicou a consolidação da memória [2]. Pesquisa de tratamento crônico utilizando triptofano avaliou 59 mulheres (45–65 anos) fisicamente e psicologicamente saudáveis por 19 dias, as variáveis mensuradas foram: o estado do humor, funções emocionais e qualidade do sono, através de protocolos validados de escala de saúde física e mental, escala de humor e qualidade do sono (do inglês, MAPSS- Mental and Physical Sensations Scale, Affective Go/No-Go Task for emotional processing bias). Como resultado, o processo emocional foi significativamente alterado com a suplementação, exibindo mudanças positivas nas respostas a estímulos negativos, diminuição das respostas a palavras negativas, sugerindo redução da atenção ao negativo e um aumento de tendência para a felicidade [3]. Revisão sistemática com 11 estudos clínicos utilizando a suplementação de triptofano sugere que sua ingestão é útil em modificar o humor em indivíduos saudáveis, reprimindo os sentimentos negativos e elevando os positivos, com diferenças significativas entre o grupo controle e o tratado [4] . Magnésio Estudo aponta associação entre a concentração baixa de magnésio no plasma e a presença de desordens emocionais, como sintomas depressivos, diminuição da energia, motivação, qualidade do sono, autoestima e concentração em indivíduos acima de 50 anos [5]. Corroborando com esses achados, meta-análises demonstraram associação entre depressão e baixa ingestão de magnésio, bem como sua concentração no plasma [40,41]. Por exemplo, um recente estudo com 3600 sujeitos (idade média – 62 anos) constatou que pessoas com maiores concentrações de magnésio no soro têm menor probabilidade de desenvolver depressão [8]. O magnésio associado com vitamina B6 também foi capaz de melhorar a pontuação de ansiedade em indivíduos com ansiedade média, quando comparado a tratamentos farmacológicos, os efeitos foram similares [9]. Ainda sobre esse tema, estudo duplo-cego, randomizado e controlado avaliou o uso sozinho de magnésio e associado à vitamina B6 em indivíduos com estresse moderado a severo e com magnésio sérico abaixo do ideal (entre 0,66–0,84 mmol/L). Após 8 semanas de tratamento os dois grupos apresentaram melhora da ansiedade, humor e qualidade de vida. Contudo, o grupo que utilizou magnésio associado a vitamina B6 demonstrou melhor capacidade para a execução das atividades diárias comparado ao grupo que consumiu o magnésio somente. A melhora dos parâmetros avaliados já ocorreu nas primeiras 4 semanas [10]. Resveratrol O Resveratrol tem demonstrado ser promissor na melhora de aspectos como cognição e humor. Estudo apontou que mulheres (n=80) na pós-menopausa tratadas por 14 semanas com resveratrol (2x/dia, 75 mg de resveratrol) apresentaram efeitos positivos na cognição (avaliações: velocidade de fluxo cerebral e índice de pulsatividade), na função cerebrovascular e na ansiedade (protocolo: Profile of Mood States), comparadas ao controle [11]. Indivíduos saudáveis suplementados com trans-resveratrol (500 mg/dia) por 28 dias demonstraram melhora significativa da fadiga e fluxo sanguíneo cerebral, embora não apresentaram alterações significativas no sono [12]. Em ensaio pré-clínico o resveratrol foi capaz de neutralizar as deficiências de memória e de humor relacionadas à idade e alterações no hipocampo. Animais na meia idade tratados durante 4 semanas com o resveratrol apresentaram melhor aprendizado, memória e humor, além de maior neurogênese e microvasculatura. Ele também diminuiu a inflamação no hipocampo. Sugerindo que a terapia com resveratrol na meia idade pode ser benéfica por prevenir perdas de memória e funções do humor [13]. Embora o resultado de pesquisas em relação ao resveratrol e modulação de humor sejam promissores, mais ensaios clínicos são necessários a fim de elucidar de maneira robusta esse tema [14]. Dessa forma, é crescente o número de evidências da relação bidirecional entre os componentes alimentares e a modulação do humor. Dado o seu envolvimento com a fisiopatologia dos transtornos do humor, a integração da dieta ao tratamento desses transtornos pode ser um importante passo à frente. Referências: [1] Martins LB, Braga Tibães JR, Sanches M, Jacka F, Berk M, Teixeira AL. Nutrition-based interventions for mood disorders. Expert Rev Neurother 2021;21:303–15. https://doi.org/10.1080/14737175.2021.1881482. [2] Mendelsohn D, Riedel WJ, Sambeth A. Effects of acute tryptophan depletion on memory, attention and executive functions: A systematic review. Neurosci Biobehav Rev 2009;33:926–52. https://doi.org/10.1016/j.neubiorev.2009.03.006. [3] Mohajeri MH, Wittwer J, Vargas K, Hogan E, Holmes A, Rogers PJ, et al. Chronic treatment with a tryptophan-rich protein hydrolysate improves emotional processing, mental energy levels and reaction time in middle-aged women. British Journal of Nutrition 2015;113:350–65. https://doi.org/10.1017/S0007114514003754. [4] Kikuchi AM, Tanabe A, Iwahori Y. A systematic review of the effect of L-tryptophan supplementation on mood and emotional functioning. J Diet Suppl 2021;18:316–33. https://doi.org/10.1080/19390211.2020.1746725. [5] Rotter I, Wiatrak A, Rył A, Kotfis K, Sipak-Szmigiel O, Ptak M, et al. The relationship between the concentration of magnesium and the presence of depressive symptoms and selected metabolic disorders among men over 50 years of age. Life 2021;11:1–10. https://doi.org/10.3390/life11030196. [6] Li B, Lv J, Wang W, Zhang D. Dietary magnesium and calcium intake and risk of depression in the general population: A meta-analysis. Australian and New Zealand Journal of Psychiatry 2017;51:219–29. https://doi.org/10.1177/0004867416676895. [7] Cheungpasitporn W, Thongprayoon C, Mao MA, Srivali N, Ungprasert P, Varothai N, et al. Hypomagnesaemia linked to depression: A systematic review and meta-analysis. Intern Med J 2015;45:436–40. https://doi.org/10.1111/imj.12682. [8] Tarleton EK, Kennedy AG, Rose GL, Crocker A, Littenberg B. The association between serum magnesium levels and depression in an adult primary care population. Nutrients 2019;11. https://doi.org/10.3390/nu11071475. 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The effects of chronic trans-resveratrol supplementation on aspects of cognitive function, mood, sleep, health and cerebral blood flow in healthy, young humans. British Journal of Nutrition 2013;114:1427–37. https://doi.org/10.1017/S0007114515003037. [13] Kodali M, Parihar VK, Hattiangady B, Mishra V, Shuai B, Shetty AK. Resveratrol Prevents Age-Related Memory and Mood Dysfunction with Increased Hippocampal Neurogenesis and Microvasculature, and Reduced Glial Activation. Sci Rep 2015;5. https://doi.org/10.1038/srep08075. [14] Ruitenberg A, Den Heijer T, Bakker SLM, Van Swieten JC, Koudstaal PJ, Hofman A, et al. Cerebral hypoperfusion and clinical onset of dementia: The Rotterdam Study. Ann Neurol 2005;57:789–94. https://doi.org/10.1002/ana.20493. O post Compostos para regulação do humor: O que a ciência diz? apareceu primeiro em Blog Nutrify. Nutrição
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