COMPOSTOS DA DIETA E INTERAÇÃO COM O SISTEMA IMUNOLÓGICO Ouvir 21 de maio de 2024 É conhecido que o estado nutricional do organismo e os nutrientes ingeridos na alimentação influenciam significativamente na atuação do sistema imunológico. Nesse sentido, vitaminas, minerais, compostos bioativos e fibras podem influenciar a resposta imunológica. Abaixo abordaremos compostos da dieta e sua influência no sistema imune: Beta-glucanas (β 1-3/1-6) As beta-glucanas são polissacarídeos constituintes estruturais da parede celular de leveduras, fungos e alguns cereais, que se diferenciam pelo tipo de ligação entre as unidades de glicose da cadeia principal e pelas ramificações que se conectam a essa cadeia, resultando assim, em diferentes benefícios ao organismo. As beta-glucanas derivadas da aveia com conformação β(1-3/1-4) demonstram diminuição do colesterol sérico e melhora da microbiota intestinal. Já as beta-glucanas derivadas da parede celular de Saccharomyces cerevisiae também conhecida como levedura de fermentação, é a mesma utilizada para a produção de cerveja e na panificação, porém ela está na sua forma inativa, na qual não ocorre fermentação. É constituída por um esqueleto linear central de unidades de glicose ligadas na posição β(1-3), com cadeias laterais unidas em β(1-6) (β 1-3/1-6), o que confere a sua capacidade imunomoduladora, mais especificamente da resposta imune inata. Essas têm a capacidade de serem reconhecidas pelo sistema imune inato, uma vez que várias células como macrófagos, neutrófilos e células dendríticas, dentre outras, possuem receptores para beta-glucanas (β 1-3/1-6), como os receptores dectina-1 e complemento 3. Dessa forma, ele regula positivamente a fagocitose e a quimiotaxia das células imunes inatas resultando em maior resistência às infecções. Estudos in vivo demonstraram aumento da sobrevivência em animais pela ingestão de beta-glucanas desafiados com uma variedade de patógenos. As evidências de estudos clínicos com a ingestão de beta-glucanas (β 1-3/1-6) têm demonstrado a sua capacidade de apoiar respostas imunes. Ela pode reduzir a incidência de doenças do trato respiratório superior, sintomas de infecção e melhora a sensação geral de bem-estar em pessoas de todas as idades. Tabela 1. Resumo dos ensaios clínicos com beta-glucana (β 1-3/1-6) (Wellmune®): Objetivo Protocolo Principais Resultados com Wellmune® Avaliação da imunossupressão após exercício físico ● Design: randomizado, duplo-cego, controlado com placebo e crossover; ● População: 109 Adultos saudáveis ativos; ● Duração: 10 dias de suplementação Wellmune® ou placebo; washout de 7 dias; 10 dias de suplementação Wellmune® ou placebo. ● Impede queda de glóbulos brancos após o exercício; ● Maior produção de INF-γ e IL-4 após desafio com LPS. Avaliação de episódios de doenças infantis comuns durante o inverno (ITRS) ● Design: randomizado, duplo-cego, controlado com placebo; ● População: 156 crianças saudáveis; ● Duração: 12 semanas de suplementação com Wellmune®. ● Diminuição significativa (2/3) da ocorrência de infecção do trato respiratório superior (ITRS) e dias de doença. Avaliação de episódios de ITRS em corredores da maratona do Texas ● Design: randomizado, duplo-cego, controlado com placebo; ● População: 182 corredores saudáveis; ● Duração: 4 semanas de suplementação com Wellmune® após maratona. ● Diminuição significativa de 40% da ocorrência de infecção do trato respiratório superior (ITRS) após 28 dias da maratona; ● Melhora da imunidade da mucosa (aumento significativo dos níveis de IgA salivar) após exercício extenuante com 10 dias de suplementação de Wellmune® Avaliação de parâmetros imunológicos após exercício extenuante ● Design: randomizado, duplo-cego, controlado com placebo, crossover; ● População: 60 atletas recreacionais; ● Duração: 10 dias de suplementação Wellmune® ou placebo; washout de 7 dias; 10 dias de suplementação Wellmune® ou placebo. ● Impede queda de glóbulos brancos após o exercício extenuante; ● Maior produção de INF-γ e IL-4 após desafio com LPS Sintomas de alergia (questionário validado: Rhinoconjunctivitis Quality of Life Questionarei (RQLQ)) ● Design: randomizado, duplo-cego, controlado com placebo; ● População: 48 indivíduos; ● Duração: 4 semanas de suplementação com Wellmune®. ● Redução significativa dos sintomas nasais e oculares Avaliação de episódios de ITRS em indivíduos estressados ● Design: randomizado, duplo-cego, controlado com placebo; ● População: 48 indivíduos; ● Duração: 90 dias de suplementação com Wellmune®. ● Diminuição de 18% da ocorrência de sintomas de gripe e resfriado Avaliação de episódios de ITRS em mulheres estressadas ● Design: randomizado, duplo-cego, controlado com placebo; ● População: 77 mulheres; ● Duração: 12 semanas de suplementação com Wellmune®. ● Diminuição significativa de 62% da ocorrência de infecção do trato respiratório superior (ITRS); ● Melhora de 8,3% no estado de bem-estar geral e aumento de 26% do vigor (protocolo POMS) Avaliação de episódios de ITRS em maratonistas e percepção de bem-estar geral ● Design: randomizado, duplo-cego, controlado com placebo; ● População: 75 corredores; ● Duração: 4 semanas de suplementação com Wellmune® após a maratona. ● Diminuição significativa em 67% da ocorrência de infecção do trato respiratório superior (ITRS); ● Melhora no vigor, diminuição da fadiga, confusão e tensão (protocolo POMS) Avaliação de suporte imunológico durante estações mais frias ● Design: randomizado, duplo-cego, controlado com placebo; ● População: 40 indivíduos; ● Duração: 12 semanas de suplementação com Wellmune®. ● Melhora da qualidade de vida (protocolo: Physical Component Summary score) Avaliação de episódios de ITRS em bombeiros ● Design: randomizado, duplo-cego, controlado com placebo; ● População: 54 bombeiros; ● Duração: 2 semanas de suplementação com Wellmune®. ● Redução significativa em 23% da ocorrência de infecção do trato respiratório superior (ITRS) * Wellmune® é uma formulação altamente purificada de beta-glucana (β 1-3/1-6) proveniente de Saccharomyces cerevisiae, não alergênica, livre de glúten naturalmente, não transgênica e compatível com orgânicos. Protocolo POMS (Profile of Mood States) Fibra de goma acácia A goma acácia (GA) é um heteropolissacarídeo de alto peso molecular (350–850 kDa) contendo resíduos de galactose, ramnose, ácido glucurônico e arabinose, além de polifenois (catequinas e epicatequinas). É considerada uma fibra prebiótica e solúvel em água, devido a sua inacessibilidade por várias enzimas do intestino delgado, é também definida como um ingrediente alimentar não digerível que afeta beneficamente o hospedeiro estimulando o crescimento seletivo de bactérias do cólon, sem estimular o crescimento de bactérias indesejadas. A GA é largamente fermentada no intestino grosso em ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) por microrganismos, além de modular positivamente a microbiota intestinal com o aumento de gêneros Bifidobacterium e Lactobacillus, benéficos à saúde. Estudos também apontam a capacidade de GA em aumentar o sistema antioxidante de defesa, como as enzimas superóxido dismutase, catalase e glutationa peroxidase no fígado, modular a inflamação, fatores associados também à resposta imunológica. Em adição, a ingestão de GA demonstrou aumento de catelicidina de maneira dose-dependente em macrófagos em estudo pré-clínico. Ela desempenha papéis essenciais na regulação da defesa e imunidade inata do hospedeiro. Nos humanos a única catelicidina presente é o peptídeo LL-37, expresso em neutrófilos, monócitos/macrófagos e linfócitos. A ingestão de GA aumenta os AGCC, é conhecido que o butirato é um dos indutores da expressão de catelicidina. Estudos demonstraram que o aumento da expressão de catelicidina e sua síntese foram diretamente correlacionadas com atividade antimicrobiana in vitro e in vivo. Dessa forma, o consumo regular de GA poderia aumentar a imunidade inata contra infecções bacterianas, virais e fúngicas. Própolis Verde A composição da própolis é extremamente complexa. Já foram descritas mais de 400 substâncias constituintes. A origem botânica é um dos fatores que pode explicar a variabilidade química entre diferentes amostras de própolis. Ela tem demonstrado propriedades antimicrobianas, anti-inflamatórias, antitumorais, antioxidantes e imunomoduladora. Nesse sentido, a própolis verde é obtida a partir da planta Baccharis dracunculifolia DC e sua ação biológica deriva da alta quantidade de ácidos fenólicos e flavonoides, sendo os principais constituintes: ácido cinâmico, ácido cumárico, quercetina, rutina, apigenina, artepillin C, éster fenetílico do ácido caféico. De acordo com estudos científicos o composto artepillin C demonstra ativação de macrófagos. Estas células desempenham um papel fundamental na defesa do organismo, através da fagocitose, geração de radicais livres, mediação de processos inflamatórios e secreção de uma variedade de substâncias bioquimicamente diferentes, como enzimas, citocinas e componentes do sistema complemento. A ação da própolis verde nos macrófagos resulta em aumento da capacidade fagocítica. Ela também restringe a capacidade da diferenciação de linfócitos Th1 e Th17 relacionada às doenças autoimunes e inflamatórias. O artepillin C tem demonstrado inibir IFNγ e IL-17 em células T CD4+ alorreativas, o que pode estar associado com a inibição da diferenciação de Th1. Gengibre O Gengibre (Zingiber officinale Roscoe), cujo rizoma é comercializado amplamente, ele é rico em muitos compostos químicos como compostos fenólicos, terpenos e ácidos orgânicos. Os efeitos na saúde do gengibre são atribuídos principalmente aos seus compostos bioativos gingerol e shogaol, demonstrando efeitos anti-inflamatórios, antioxidantes e imunomoduladores. O gengibre tem demonstrado em modelos animais melhorar níveis de IFN- γ e IL-2. O IFN- γ é indispensável a resposta imune e sua expressão aberrante está relacionada às doenças autoimunes e autoinflamatórias. A adição de gingeróis a linfócitos T elevou a secreção de IFN- γ através da interação dos gingeróis e TRPV1 (receptor de potencial transitório vanilóide tipo 1). Estudo in vivo demonstrou que o gengibre diminui a ativação de macrófagos estimulados com LPS, modulando a produção de IL-12, essa induz o aumento de células natural killer (NK) e IFN- γ, importante na função dos macrófagos. Pesquisa conduzida em animais infectados com cepas de Mycobacterium tuberculosis observou que o gingerol apresentou efeito modulador melhorando as respostas Th1/Th17. Em estudo clínico de indivíduos com artrite reumatoide (AR), a ingestão de gengibre foi capaz de diminuir manifestações da AR, por aumentar a expressão de FOXP3, fator de transcrição de células reguladoras T, atenuando doenças autoimunes. Além disso, extratos de gengibre inibem a produção de eicosanoides, como prostaglandina do tipo 2 (PGE2), reduzindo a produção de citocinas inflamatórias (TNF-α, IL-6 e IL-1β), modulando de maneira direta o processo inflamatório e a resposta imune. N-acetil Cisteína (NAC) N-acetil cisteína é precursor da glutationa reduzida (GSH). Devido a sua tolerabilidade, esta substância tem sido proposta não apenas como agente mucolítico, mas também como agente preventivo/terapêutico em uma variedade de distúrbios envolvendo depleção de GSH e estresse oxidativo. A GSH é um importante mecanismo de defesa do organismo. O NAC entra facilmente nas células, onde é desacetilado para produzir L-cisteína, promovendo assim a síntese de GSH. É conhecido que a GSH modula o sistema imune inato em vários níveis e pode modificar reações imunológicas complexas como febre. A ingestão de NAC em mulheres na pós-menopausa por 4 meses reforçou as defesas imunitárias demonstrado pela melhora das funções dos linfócitos (adesão, quimiotaxia e proliferação) e neutrófilos (adesão, quimiotaxia, superóxido e fagocitose), bem como nos níveis de citocinas (IL-2, IL-8, e TNF-α), trazendo os valores próximos às mulheres saudáveis (controle). E, ainda, foi capaz de aumentar o conteúdo de GSH dos linfócitos. Além disso, o tratamento com NAC por 6 meses também diminuiu significativamente a frequência de infecções por influenza em indivíduos idosos com doenças crônicas-degenerativas, bem como a severidade e duração dos sintomas. Vitaminas e minerais Tabela 2. Principais funções de micronutrientes no sistema imunológico Micronutriente Imunidade Inata Imunidade Adaptativa VITAMINA D3 ● Aumenta a diferenciação de monócitos para macrófagos; ● Estimula a proliferação de células imunes e a produção de citocinas, além de proteger contra infecções causadas por patógenos; ● A forma ativa da vitamina D, regula as proteínas antimicrobianas catelicidina e defensina, que podem eliminar diretamente patógenos, especialmente bactérias. ● 1,25 dihidroxivitamina D3 suprime a produção de anticorpos por células B e inibe a proliferação de células T. VITAMINA C ● Promove a síntese de colágeno apoiando assim a integridade de barreiras epiteliais; ● Estimula a produção, função e movimento de leucócitos (por exemplo, neutrófilos, linfócitos e fagócitos); ● Regenera outros antioxidantes importantes, como glutationa e vitamina E ao seu estado ativo; ● Envolvida em apoptose e eliminação de neutrófilos; ● Tem funções em atividades antimicrobianas e de células NK e quimiotaxia. ● Pode aumentar os níveis séricos de anticorpos; ● Tem funções na diferenciação e proliferação de linfócitos. ZINCO ● Ajuda a modular a liberação de citocinas e induz a proliferação de células T CD8+; ● Efeitos antioxidantes protegem contra ROS e RNS; ● Ajuda a manter a integridade da pele e da membrana mucosa. ● Papel central no crescimento celular e diferenciação das células imunes; ● Essencial para a ligação intracelular de tirosina quinase aos receptores de células T, necessários para o desenvolvimento e ativação de linfócitos T; ● Suporta resposta Th1 (célula T auxiliar). SELÊNIO ● Essencial para a função de enzimas dependentes de selênio (selenoproteínas), que podem atuar como reguladores redox e antioxidantes celulares, neutralizando potencialmente o ROS; ● Selenoproteínas são importantes para o sistema de defesa antioxidante do hospedeiro afetando a função celular do leucócito e de células NK ● Envolvido na proliferação de linfócitos T; ● Tem funções no sistema humoral (por exemplo, produção de imunoglobulina). Referências: https://doi.org/10.1111/j.1600-065X.2009.00793.x https://doi.org/10.1080/10408399908500493 https://doi.org/10.1128/aac.42.3.545 https://doi.org/10.1016/j.nut.2017.03.003 https://doi.org/10.3389/fphys.2017.00786 http://dx.doi.org/10.4172/2155-9600.1000519 http://dx.doi.org/10.3109/19390211.2013.820248 https://doi.org/10.1002/fsn3.11 https://doi.org/10.1016/j.nut.2011.11.012 https://doi.org/10.1080/07315724.2012.10720441 https://doi.org/10.1249/01.mss.0000323413.46780.c1 https://doi.org/10.1017/S0007114508981447 https:// doi.org/10.3390/biom13010138 https://doi.org/10.3945/jn.110.135657 https://doi.org/10.1186/s12906-022-03627-9 https://doi.org/10.3389/fimmu.2019.03119 https://doi.org/10.11525/2012/15765 https://doi.org/10.1016/j.fbio.2021.100934 https://doi.org/10.1186/1472-6882-8-1 https://doi.org/10.1016/j.intimp.2020.106809 https://doi.org/10.1002/ptr.4847 https://doi.org/10.1096/fj.202001807 https://doi.org/10.3390/ijms21041393 https://doi.org/10.1016/j.freeradbiomed.2008.07.014 https://doi.org/10.1183/09031936.97.10071535 https://doi.org/10.3390/nu10101531 O post COMPOSTOS DA DIETA E INTERAÇÃO COM O SISTEMA IMUNOLÓGICO apareceu primeiro em Blog Nutrify. Nutrição
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