Depressão em idosos: amigas de 4 décadas encontraram saída juntas Ouvir 28 de outubro de 2023 Elvira Soares, de 72 anos, e Francisca Moura, de 75 anos, enfrentaram juntas um problema que, muitas vezes, permanece invisível à sociedade: a depressão em idosos. Amigas há 41 anos, elas se deram as mãos para superar tristezas e decepções e seguir acreditando que a vida vale a pena. As duas contam que já sentiam alguns dos sintomas da depressão na fase adulta. Mas, conforme a idade avançava e questões como solidão, ansiedade e insegurança se tornaram mais presentes, eles se intensificaram. Leia também Vida & Estilo Chá de alimento milenar ajuda a combater depressão, saiba qual Saúde Praticar hot ioga pode reduzir sintomas de depressão, diz Harvard Saúde Dormir menos de 5 horas pode aumentar o risco de depressão, diz estudo Saúde Solidão entre idosos: veja riscos do isolamento na terceira idade “Sempre carreguei essa tristeza e angústia comigo, mas aumentou com a aposentadoria e com o fato do meu casamento ter acabado. Passei a me sentir inútil e não tinha vontade de nada. Não queria tomar banho, nem pentear o cabelo”, afirma Elvira, ex-auxiliar de limpeza. Para Francisca, o sinal de alerta veio com variações de humor constantes e alterações nos hábitos de alimentação. “Estava muito mal, mas não tinha discernimento sobre o que era. Sabia que era algo nervoso, mas não conseguia entender exatamente”, afirma. Francisca vivia dificuldades dentro de casa e achava que sua tristeza se justificava pelos rumos que a vida tomou. “Testemunhei um filho se tornar usuário de drogas e, além dos meus próprios, precisei criar os filhos o meu marido sozinha, pois ele não me ajudava”, lembra Francisca, que também trabalhava como auxiliar de limpeza. Fatores de risco A psicóloga Eduarda Freitas, pesquisadora de Gerontologia da Universidade Católica de Brasília (UCB), explica que a depressão em idosos é um problema invisibilizado na nossa sociedade. Segundo ela o etarismo, preconceito praticado contra pessoas de idade avançada, faz parte da cultura brasileira, o que acaba isolando as pessoas mais velhas. “Família, sociedade e até governo sabem da existência do problema, mas negligenciam o bem estar e a saúde do ser humano nessa fase da vida”, lamenta a pesquisadora. A especialista acrescenta que fatores de estresse, como diminuição da funcionalidade, desenvolvimento de doenças crônicas, morte de pessoas queridas, mudanças de papéis e solidão, agravam o quadro, contribuindo para o desenvolvimento da doença. Solidão entre idosos Uma pesquisa publicada na edição de julho da revista científica Cadernos de Saúde Pública, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), constatou que boa parte dos idosos brasileiros tem queixas relacionadas à saúde mental. De acordo com o trabalho, cerca de um terço deles relata sintomas depressivos e 16% se sentem solitários. Os autores entrevistaram cerca de 9 mil pessoas e observaram associações significativas entre a solidão e os sintomas depressivos. Segundo o gerontologista Paulo Afonso, autor principal do estudo, a solidão é quatro vezes mais frequente em idosos com sintomas depressivos em relação aos demais entrevistados. ***desenho-saúde-mental Reconhecer as dificuldades e buscar ajuda especializada são as melhores maneiras de lidar com momentos nos quais a carga de estresse está alta Getty Images ***foto-mulher-chora-sentada-na-cama Mas como saber quando buscar ajuda? A qualidade da saúde mental é determinada pela forma como lidamos com os sentimentos Getty Images ***foto-casal-abraçado-sorrindo Pessoas mentalmente saudáveis são capazes de lidar de forma equilibrada com conflitos, perturbações, traumas ou transições importantes nos diferentes ciclos da vida. Porém, alguns sinais podem indicar quando a saúde mental não está boa Getty Images ***foto-idosa-com-insônia Insônia, depressão e estresse elevam risco de arritmia cardíaca pós-menopausa Getty Images ***foto-homem-estressado Estresse: se a irritação é recorrente e nos leva a ter reações aumentadas frente a pequenos acontecimentos, o sinal vermelho deve ser acionado. Caso o estresse seja acompanhado de problemas para dormir, é hora de buscar ajuda Getty Images ***foto-idosos-dão-gargalhadas Além de fatores genéticos, a longevidade pode estar associada à quantidade de vezes que a pessoa ficou doente Getty Images ***foto-quebra-cabeça-de-cérebro Lapsos de memória: se a pessoa começa a perceber que a memória está falhando no dia a dia com coisas muito simples é provável que esteja passando por um episódio de esgotamento mental Getty Images ***foto-mulher-quer-comer-doce-de-geladeira Alteração no apetite: na alimentação, a pessoa que come muito mais do que deve usa a comida como válvula de escape para aliviar a ansiedade. Já outras, perdem completamente o apetite Getty Images ***foto-mulher-com-autoestima-admira-sombra Autoestima baixa: outro sinal de alerta é a sensação de incapacidade, impotência e fragilidade. Nesse caso, é comum a pessoa se sentir menos importante e achar que ninguém se importa com ela Getty Images ***foto-homem-com-as-mãos-sujas Desleixo com a higiene: uma das características da depressão é a perda da vontade de cuidar de si mesmo. A pessoa costuma estar com a higiene corporal comprometida e perde a vaidade Getty Images ***foto-mulher-isolada-e-triste Sentimento contínuo de tristeza: ao contrário da tristeza, a depressão é um fenômeno interno, que não precisa de um acontecimento. A pessoa fica apática e não sente vontade de fazer nada Getty Images ***foto-mulher-em-consulta-com-psicóloga Para receber diagnóstico e iniciar o tratamento adequado, é muito importante consultar um psiquiatra ou psicólogo. Assim que você perceber que não se sente tão bem como antes, procure um profissional para ajudá-lo a encontrar as causas para o seu desconforto Getty Images Voltar Progredir 0 “O ideal é que as pessoas próximas, familiares ou amigos, saibam reconhecer os sinais de depressão e conduzam o idoso para o tratamento”, aponta o especialista. “A solidão em idosos é, muitas vezes, vista como algo comum e natural da vida, ou seja, há uma visão estereotipada de que velhos são naturalmente tristes e solitários. No entanto, se esse estado causa sofrimento mental, ele piora muito a qualidade de vida das pessoas de terceira idade”, alerta o especialista. Sinais de alerta A professora Eduarda Freitas, da UCB, explica que alguns sinais de alerta para a depressão em idosos são: Diminuição dos movimentos corporais; Perda de peso associado a perda de apetite sem motivo aparente; Insônia; Diminuição na frequência de atividades de vida diária; Deixar de praticar hobbies; Irritabilidade; Mudança repentina de humor; Necessidade de isolamento constante; Introspecção. Atividades como saída A tristeza recorrente empurrou Francisca para procurar ajuda, foi quando ela passou a fazer terapia na Universidade Católica de Brasília. Lá também descobriu atividades de lazer e conheceu novas pessoas. A universidade possui um projeto chamado Centro de Convivência do Idoso (CCI), que busca oferecer atividades ocupacionais para o grupo etário. Atualmente, a iniciativa atende aproximadamente 200 pessoas. “As atividades me fizeram tão bem, que queria compartilhar o momento com mais pessoas. Foi aí que pensei na Elvira, que precisava de ajuda tanto quanto eu. Via nela um desgosto pela vida, e decidi convencê-la a vir”, conta Francisca. desenho de elvira Uma das atividades do Centro de Convivência do Idoso (CCI) é a aula de artes HUGO BARRETO/Metrópoles Francisca malhando Francisca mora em Lago Azul (GO) HUGO BARRETO/Metrópoles Elvira em aula de arte Elvira tem 72 anos HUGO BARRETO/Metrópoles Francisca forte Francisca vai à Católica de segunda a quinta para realizar atividades HUGO BARRETO/Metrópoles Elvira forte Elvira gosta de se exercitar HUGO BARRETO/Metrópoles Elvira se divertindo Elvira afirma que se sente melhor com as amigas do CCi do que em casa HUGO BARRETO/Metrópoles Francisca remando Francisca afirma que as atividades a ajudam a desestressar e ocupar a mente HUGO BARRETO/Metrópoles Elvira malhando peito HUGO BARRETO/Metrópoles Elvira sorrindo Às quartas, Elvira e as demais participantes do projeto frequentam aulas de artes HUGO BARRETO/Metrópoles Elvira malhando biceps Elvira percebe a importância em manter-se ativa HUGO BARRETO/Metrópoles Elvira no CCI Elvira mora em Taguatinga HUGO BARRETO/Metrópoles Elvira musculosa Além de fortalecer o corpo, os exercícios são bons para a saúde mental HUGO BARRETO/Metrópoles Elvira e Francisca Elvira e Francisca são amigas a 41 anos HUGO BARRETO/Metrópoles Voltar Progredir 0 “Foi muito bom ter vindo para cá, agradeço demais a Francisca. Quando chego em casa, meus problemas estão todos lá de novo. Mas, aprendi um jeito melhor de lidar com eles. Já não sou desanimada como antes, pois percebo que a minha vida continua e tem que continuar”, desabafa Elvira. Siga a editoria de Saúde no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto! Notícias
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