Dificuldades da vida não são o que causa depressão Ouvir 30 de novembro de 2024 Mais de um décimo da população da Alemanha foi diagnosticada com depressão em 2022, demonstrou um estudo do plano de saúde AOK: são cerca de 9,9 milhões de indivíduos, tendência crescente. As mulheres são as mais atingidas. Uma delas sou eu. No segundo trimestre de 2024, comecei a me sentir mal. Nada mais me dava prazer. À falta de entusiasmo juntaram-se desesperança e culpa: de não ser uma boa mãe, amiga ou esposa. A tensão interior me expulsava da cama às primeiras horas da manhã, com a cabeça cheia de milhares de apreensões e medos. No entanto a minha vida realmente já foi mais difícil. Quando eu era mãe solo, tendo que trabalhar e terminar a faculdade, por exemplo. Ou durante a pandemia de covid-19. Eu me perguntava: por que estou cada vez pior, embora a minha vida esteja francamente melhor do que na década passada? “É preciso distinguir entre estresse, luto e outras reações normais a condições de vida difíceis, de um lado, e a doença depressão, do outro. São dois mundos distintos”, explica o psiquiatra Ulrich Hegerl, presidente da fundação Deutsche Depressionshilfe und Suizidprävention, de combate à depressão e prevenção do suicídio. “A maioria pensa – também eu pensava – que uma depressão é uma reação a dificuldades na vida”, porém essa suposição pode se tornar um problema. Porque um fator decisivo nas doenças depressivas é a predisposição. Para quem a possui, determinadas situações existenciais podem se tornar um gatilho. A origem costuma ser genética, mas a predisposição também ser adquirida, através de episódios traumáticos da infância, ressalta Hegerl. Leia também Vida & Estilo Depressão pode ser mais comum em solteiros do que casados, diz estudo Saúde Depressão altera região do cérebro ligada à atenção, sugere estudo Brasil Setembro amarelo: como a depressão afeta a saúde mental dos idosos Saúde Audiologista explica relação entre a perda auditiva e a depressão Vergonha e estigmatização são desafios para depressivos Um estudo recente comprovou que a montanha-russa emocional e o mal-estar depressão têm causas neurofisiológicas: nos pacientes depressivos, a rede de saliência, ou rede ventral de atenção, do cérebro é mais extensa do que em indivíduos saudáveis. Essa estrutura funciona como um filtro, direcionando a atenção a estímulos externos relevantes, e regula a reação emocional a eles. Embora não esteja claro como o mecanismo funciona, o estudo mostrou uma correlação entre o tamanho da rede e sintomas depressivos como a perda de alegria e motivação: se ela é maior do que o normal, pode ser um indicador da propensão, mesmo se (ainda) não há sintomas. Portanto não é culpa minha que eu tenha depressão. A sensação principal ao receber o diagnóstico foi alívio: eu podia parar de me sentir mal por me sentir mal; podia parar de atravessar o dia me sacudindo com a mensagem “deixa de frescura”. Por outro lado, as afirmativas de Hegerl e o estudo também significam que eu vou estar sempre propensa a episódios depressivos. Mas psicoterapia e medicamentos podem impedir uma recaída: “Os atingidos devem ter um plano de emergência”, aconselha o psiquiatra. “Quais são os primeiros sinais? O que posso fazer, se chegam?” O que também significa, porém, que é preciso tornar a situação visível para outros e falar sobre e própria depressão. Isso era difícil para mim, e me envergonhava. Hegerl confirma: “Um dos maiores desafios é a estigmatização, devido a uma concepção equivocada da enfermidade.” É também daí que vem a minha vergonha. Agora eu sei o suficiente sobre a minha depressão para não mais tratá-la como uma falha de personalidade. Mas as pessoas que eu encontro também sabem disso? Siga a editoria de Saúde no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto! Notícias
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