DOENÇAS CARDIOVASCULARES: PRETENSOS EFEITOS DA COQ10 E ÔMEGA-3 Ouvir 27 de junho de 2024 As doenças cardiovasculares acometem uma parcela significativa dos brasileiros, sendo responsável por 32% dos óbitos. Os fatores de risco para o desenvolvimento da doença são variados e podem ser modificáveis, como hiperlipidemia, tabagismo, uso de contraceptivos orais, sedentarismo e dieta não balanceada. Já os riscos não modificáveis são: idade, sexo, etnia e histórico familiar de doença cardiovascular. A aterosclerose é conhecida como uma doença crônica inflamatória que afeta os vasos sanguíneos, sendo uma das principais causas que levam aos eventos cardiovasculares, incluindo infarte do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC). O desenvolvimento da aterosclerose é classicamente considerado o resultado da dislipidemia. Tanto a lipoproteína de alta densidade (HDL) quanto a de baixa densidade (LDL) desempenham papéis críticos no transporte de colesterol e têm sido implicadas na aterosclerose. Especificamente, níveis elevados de LDL-colesterol têm sido relacionados a progressão da doença, elas podem infiltrar no endotélio vascular, e quando oxidadas, liberam substâncias que se acumulam nos vasos e recrutam células do sistema imune, como os monócitos que se diferenciam em macrófagos e fagocitam LDL-oxidada, iniciando o processo de formação de placas de ateroma. Nesse sentido, a ingestão de CoQ10 tem demonstrado evidências de efeitos antiaterogênicos previnindo o acúmulo de lipídios na aorta em camundongos com hipercolesterolemia (knockout para ApoE). Ademais, a CoQ10 mostrou-se eficaz em inibir a lipoperoxidação do LDL in vitro quando a lipoproteína é exposta a oxidantes produzidos por leucócitos. Além disso, CoQ10 suprime a lipoproteína de baixa densidade oxidada de induzir a formação de células espumosas, por reverter o transporte de colesterol nos macrófagos, inibindo a progressão da aterosclerose. Em estudo clínico randomizado, duplo-cego e controlado com placebo com a participação de 65 indivíduos (idade média 55 ± 6) com pontuação para cálcio coronariano > 10 foi avaliado o efeito da suplementação diária de 120 mg CoQ10/dia associada ao extrato de alho (1200 mg) por 1 ano em marcadores inflamatórios e progressão da aterosclerose coronariana comparada ao placebo. Como resultado, o grupo suplementado apresentou melhora na eslasticidade vascular, bem como redução da progressão da aterosclerose coronariana (avaliada por varredura de cálcio da artéria coronariana) e inflamação avaliada pela concentração de proteína C reativa no sangue. Da mesma forma, estudo clínico com a suplementação de 120 mg CoQ10/dia durante um ano em pacientes após sofrerem infarto do miocárdio agudo avaliou fatores de risco para o desenvolvimento de aterosclerose, como lipídios sanguíneos e estado antioxidante no sangue. Foi observado aumento de HDL-colesterol e diminuição de marcadores de estresse oxidativo (malondialdeído e substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico), bem como de colesterol total e LDL-colesterol. Além disso, no grupo suplementado, eventos cardíacos incluindo infartos não fatais e mortes por eventos cardiovaculares diminuiram signifcativamente (p<0,05) comparado ao controle ao final do experimento. Outro estudo com pacientes com diabetes mellitus tipo II (fator de risco para doenças cardiovasculares) que ingeriram 100 mg/dia de CoQ10 durante 12 semanas apontou diminuição de marcadores do estresse oxidativo (malondialdeído e 8-isoprostana) e aumento do sistema antioxidante de defesa (aumento da capacidade antioxidante total e atividade da enzima catalase) desses indivíduos, demonstrando o potencial da CoQ10 em reduzir o estresse oxidativo. Em relação ao consumo de ômega-3, ele confere benefícios cardiovasculares através da redução de triglicerídeos (TG), efeito anti-inflamatório, efeito na vasodilatação, redução da pressão arterial, melhora da função arterial e endotelial. É bem documentado na literatura científica que o consumo de ômega-3 pode reduzir em 20-50% os níveis de TG em indivíduos com altas concentrações desse lipídio, quantidades de 3-4 g ômega-3/dia de EPA (ácido eicosapentaenoico) ou uma combinação de EPA e DHA levam à redução de TG de maneira dose-dependente. Estudo pioneiro como o GISSI-P demonstrou que dose de 1 g/dia de ômega-3 (EPA+DHA (docosahexaenoico), EPA/DHA 1:2) por 3,4 anos poderia diminuir o risco de morte, infarto agudo do miocárdio não fatal e AVC em pacientes com infarto do miocárdio recente (menos de 3 meses). Estudo posterior como o JELLIS também observou efeitos benéficos da suplementação de ômega-3 durante 5 anos (1800 mg de EPA/dia) associada à estatina em pacientes japoneses com hipercolesterolemia e o grupo controle usou somente estatina. Foi observado diminuição significativa de eventos coronarianos importantes (inclui: morte cardíaca súbita, infarto do miocárdio fatal e não fatal, angina instável, angioplastia, implante de stent ou cirurgia de revascularização do miocárdio), com redução do risco relativo de 19%. Já o estudo OMEGA não observou efeitos positivos da ingestão de ômega-3 durante 1 ano (1 g ômega-3/dia, 460 mg EPA e 380 mg DHA) em eventos cardiovasculares de sobreviventes de infarto agudo do miocárdio. Essas divergências podem ser em relação a população estudada, uma vez que as populações dos estudos GISSI-P e JELLIS são Italianas e Japonesas, com o consumo de ômega-3 médio superior devido ao estilo de vida, pela maior ingestão de peixes e mariscos quando comparado com dietas típicas ocidentais. Nesse sentido, o ensaio REDUCE-IT demonstrou que doses mais altas de ômega-3 (EPA 4 g/dia, tratamento médio 4,5 anos) suplementadas em indivíduos com diabetes ou DCV (doenças cardiovasculares) estabelecidas e recebendo terapia com estatinas e triglicerídeos entre 135 e 499 mg/dL foi capaz de reduzir o desfecho primário composto por: mortes cardiovasculares, infarto do miocárdio não fatal, AVC, revascularização coronária ou angina instável, comparado ao controle. Em adição, meta-análise recente avaliou 40 estudos anteriores a fim de observar heterogeneidade em relação as dosagens e efeitos da suplementação de ômega-3. EPA e DHA foram associados com diminuição de eventos para doença cardíaca coronariana e infarto do miocárdio, com redução de risco de 9% e 13%, respectivamente. No caso do infarto do miocárdio, a redução do risco foi dose-dependente, o consumo de 1 g de ômega-3/dia foi associado à diminuição do risco em 9%. Já a redução do risco de mortalidade por doença cardíaca coronariana e infarto do miocárdio fatal foi alcançada com dosagens entre < 800 a 1200 mg de ômega-3/dia, segundo a maioria das evidências. Em resumo, evidências apontam que o ômega-3 e CoQ10 podem ser benéficos para a manutenção de parâmetros de saúde relacionados ao desenvolvimento de DCV. Referências: https://doi.org/10.1161/CIRCULATIONAHA.110.948562 https://doi.org/10.3390/antiox10050755 https://doi.org/10.1016/j.mayocp.2020.08.034 https://doi.org/10.1056/nejmoa1812792 https://doi.org/10.3390/nu13010204 https://doi.org/10.3390/ijms20205195 https://doi.org/10.4103/0975-3583.98883 https://doi.org/10.4172/2161-1459.1000206 https://doi.org/10.1016/j.heliyon.2020.e03659 https://doi.org/10.1515/jbcpp-2016-0149 O post DOENÇAS CARDIOVASCULARES: PRETENSOS EFEITOS DA COQ10 E ÔMEGA-3 apareceu primeiro em Blog Nutrify. Nutrição
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