“Missão”: mãe larga tudo para cuidar de filha autista com doença rara Ouvir 22 de janeiro de 2024 Quando nasce uma criança, nasce também uma relação de amor incondicional entre mãe e filho. Para Ismenia Pereira, de 44 anos, o vínculo é tão forte que, mãe solo, ela largou o emprego e a própria rotina para cuidar de Rebeca. Enquanto as mães aprendem a cuidar dos filhos com familiares e livros, Ismenia precisou observar como médicos e enfermeiros lidavam com a menina em suas múltiplas internações para entender como fazer a vida da filha o mais confortável possível. Hoje com 16 anos, a adolescente tem uma doença rara e autismo severo. “A Rebeca é 100% dependente de mim e as condições dela me fizeram replanejar toda a minha vida. Quem vê a quantidade de trabalho, de custos, acha que não daria conta. Eu mesma já achei que não daria, mas mãe sempre descobre um jeito”, conta a ex-administradora de empresas, que atualmente se dedica a cuidar da filha em tempo integral. Entre outros problemas, Rebeca não consegue ficar de pé sozinha ou evacuar sem a ajuda de remédios, tem interação social extremamente reduzida e não engole líquidos: como ela tem disfagia, até a água precisa ser engrossada com espessantes e administrada com um canudo. Leia também Saúde TDHA e autismo: saiba principais diferenças entre os transtornos Saúde Saiba quais são os 3 graus de autismo e o que cada um significa Saúde Com doença rara, jovem só descobriu que não tinha útero aos 23 anos São Paulo Jovem com doença rara, intubada 20 vezes, passa 4º Réveillon internada Doença rara e autismo A adolescente tem duas condições combinadas. Aos dois anos de idade, ela foi diagnosticada com uma síndrome genética chamada Smith-Magenis, que afeta cerca de uma a cada 15 mil crianças nascidas. A doença causa dificuldades no desenvolvimento psicomotor, alterações de comportamento e anomalias congênitas. Por conta das malformações que Rebeca teve no corpo causadas pela doença, a menina precisou fazer uma série de cirurgias. Ela passou por intervenções na coluna para corrigir os desvios graves, além de procedimentos no intestino, esôfago e estômago para tentar corrigir falhas congênitas nos órgãos. Entretanto, os procedimentos não foram suficientes para tornar o sistema digestivo de Rebeca funcional e a intervenção feita na coluna tampouco impediu o avanço da escoliose progressiva que, aos poucos, impediu a menina de andar. “A Smith-Magenis é desconhecida da maioria dos profissionais de saúde, então acreditamos que há uma subnotificação, com casos sendo confundidos por anos com outras síndromes, como a de Down ou de Williams. Ela leva a alterações tanto físicas como comportamentais que muitas vezes são inespecíficas”, aponta o médico Danilo Moretti-Ferreira, da Faculdade de Medicina de Botucatu, especialista na doença. Além disso, Rebeca tem autismo, outra condição de diagnóstico complicado e que leva a uma série de dificuldades nas interações sociais, comportamentais e intelectuais. Segundo os especialistas, não é raro que as duas condições se somem e até se confundam. “Crianças com autismo têm uma série de limitações a depender de onde estão no espectro da doença. Mesmo nos casos mais leves, é comum que existam intolerâncias alimentares, hipersensibilidade auditiva e uma dificuldade grande de sair da rotina. Casos mais graves podem ser ainda mais desafiadores”, explica a pediatra Gesika Amorim, de São Paulo, especialista em autismo. Uma vida com dificuldades Em consequência dos problemas de saúde que enfrenta, Rebeca tem escoliose progressiva na coluna. A condição a impediu de andar com o passar dos anos, além de causar fraqueza muscular, convulsões de difícil controle e bexiga descontrolada (neurogênica). Graças a essa coleção de dificuldades, Ismenia conta que hoje a adolescente precisa de atenção o tempo todo. “Minha filha era mais independente, andava, mas começou a sofrer degenerações, especialmente da escoliose e da gastrostomia, que é essa paralisia do intestino. Isso fez com que ela passasse a precisar mais do meu auxílio”, explica a mãe. Smith-Magenis ismenia rebeca autismo (4) Rebeca foi diagnosticada aos dois anos com Smith-Magenis e teve pioras progressivas ao longo dos anos Acervo pessoal Smith-Magenis ismenia rebeca autismo (5) Uma das complicações é a disfagia, que impede a menina de engolir líquidos. Por isso, até a água precisa de espessantes Acervo pessoal Smith-Magenis ismenia rebeca autismo (2) Hoje, a adolescente só fica em pé com auxílio e precisa de apoio para caminhar Acervo pessoal Smith-Magenis ismenia rebeca autismo (3) Foi montado um home care na casa da família para cuidar de Rebeca Acervo pessoal Voltar Progredir 0 Ismenia conta que o quadro de Rebeca piorou muito durante a pandemia. Além das restrições do período, os avós da adolescente morreram com uma diferença de 50 dias. “Minha mãe morreu de Covid-19 e meu pai faleceu de AVC. Foi difícil para todos nós, mas acho que especialmente para ela. O autismo se tornou muito mais grave e as convulsões ficaram mais frequentes”, lembra. A adolescente tem home care e fica internada em casa, aos cuidados da mãe, além de ser acompanhada por fisioterapeuta e um técnico de enfermagem diariamente. Rebeca faz sessões duas vezes por semana com a fonoaudióloga e encontra a médica semanalmente (todos pagos pelo plano de saúde). “Minha família me apoia muito e aprendi tudo que sei com os profissionais que nos ajudam. No fundo, foi uma escolha viver a minha vida para a Rebeca. É a minha missão de amor”, conta a mãe. A rotina, porém, é árdua, e Ismenia reconhece que desenvolveu ansiedade por conta dos diagnósticos de saúde complicados da filha. Ainda assim, não escolheria outra vida. “Aprendi muito com a Rebeca. Ela é uma criança muito feliz, ama nossa família, é muito carinhosa. Minha filha é minha paixão. Tenho um amor gigante por ela e quero que ela possa viver mais e melhor para podermos ficar sempre juntas”, diz. O tratamento de Rebeca Ismenia tem usado todo o conhecimento que adquiriu para orientar outras mães sobre como cuidar de seus filhos especiais. Em seu perfil no TikTok, ela apresenta os cuidados com a filha e alguns dos vídeos já alcançaram 4 milhões de visualizações. “Me impressionou quando postei que minha filha só podia tomar água com espessantes para não engasgar por conta da disfagia. Fiz o vídeo demonstrando como eu preparava, e percebi que muita gente não conhecia esse processo. Achei importante poder orientar outras mães e tenho gostado muito de ter esse contato com outras pessoas”, conta. Um futuro esperançoso A partilha do dia a dia de Rebeca nas redes sociais deu a Ismenia um novo gás para buscar outros tratamentos para sua filha. “Sabemos que o quadro dela é complicado, mas tenho fé que vamos encontrar tratamentos experimentais ou terapias que possam nos ajudar a tornar a vida dela mais confortável”, conta. A busca é principalmente para reverter os impactos relacionados à síndrome de Smith-Magenis e seus muitos desdobramentos na saúde da jovem. “Se ela tivesse um médico especialista na condição, seria importante pelo menos para entender melhor a doença e para que outras mães não precisem passar pelo que eu passei”, conclui. Siga a editoria de Saúde no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto! Notícias
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