Mpox vira emergência de saúde mundial. Qual risco de surto no Brasil? Ouvir 15 de agosto de 2024 A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou nesta quarta-feira (14/8) que a mpox voltou a ser uma emergência sanitária internacional. A decisão da organização foi tomada depois do aumento expressivo de casos e de mortes causadas por uma nova variante da doença, a 1b, que está circulando especialmente na República Democrática do Congo (RDC). A nova cepa tem letalidade de até 10%, muito superior à de 1% da variante que circulou em 2022. Na época, o Brasil chegou a ser o segundo país com mais casos acumulados, com 10 mil notificações, atrás apenas dos Estados Unidos, mas a doença foi controlada com o uso de imunizantes para a varíola, que têm uma eficácia cruzada para tratar o vírus da mpox. O clado 1b, que está causando tantas preocupações no continente africano, ainda não foi registrado fora de lá. Entretanto, as autoridades temem que a doença se espalhe como aconteceu com a variante 2, que levou ao surto de 2022 — as chances são altas e, por isso, a OMS tenta reunir vacinas e testes para aumentar a vigilância na região central da África e impedir a difusão do vírus. Leia também Brasil “Não há motivo de alarme”, diz ministra da Saúde sobre casos de mpox Saúde Alto nível de atenção: OMS declara a mpox emergência de saúde mundial Saúde Mpox: por que doença pode voltar a ser emergência mundial Guilherme Amado Mpox já teve 709 casos no Brasil este ano, e Saúde chama reunião Qual é o risco da mpox chegar no Brasil? No Brasil, em 2024, foram registrados 709 casos confirmados ou prováveis de mpox, todos da variante que circula por aqui desde 2022. Da chegada da doença no país até o momento, 16 óbitos foram registrados — a morte mais recente foi contabilizada em abril de 2023. “Não devemos menosprezar a mpox, mas não acreditamos que teremos um aumento abrupto de casos”, afirmou o diretor do Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (Dathi) do Ministério da Saúde, Draurio Barreira, em uma conferência digital na terça-feira (13/8). O infectologista Julio Croda, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), também avalia que o Brasil tem uma posição geográfica privilegiada no cenário internacional da mpox. “A transmissão ainda é bem local na África e não há motivo para alarme nem com a notícia da alta letalidade. O clado 2 globalmente levou a 1% de mortes, mas no Brasil esse número foi extremamente inferior, então nada nos leva a crer que, mesmo se a doença chegar aqui, terá a mesma letalidade que está apresentando na África”, explica. O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, destaca que por enquanto não devem ser alterados os protocolos de prevenção que estão sendo adotados no Brasil desde 2022. “Devemos continuar monitorando os casos, testar os suspeitos e, se confirmada a infecção, fazer a vacinação das pessoas próximas como já temos feito”, indica. Como a mpox é transmitida? Ainda há muito desconhecimento sobre a nova subvariante da mpox, já que foram realizadas poucas pesquisas e análises laboratoriais do vírus. Pelos dados da população infectada, acredita-se que a transmissão majoritária seja pelo contato íntimo que se dá durante o sexo e que a cepa que está circulando seja mais transmissível, pelo aumento exponencial de casos. Por ora, o risco maior continua sendo o de contato íntimo com as lesões, não necessariamente exclusivamente sexual. Embora na maior parte do mundo a doença seja transmitida no sexo, nos países africanos atingidos atualmente há uma grande proporção de contato intradomiciliar (entre pessoas da mesma família). A hipótese dos cientistas é de que parece ser necessário um contato duradouro e intenso para que a transmissão aconteça. 11 imagens Fechar modal. 1 de 11 A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), agência internacional dedicada a melhorar as condições de saúde dos países das Américas, destinou lotes de doses da vacina contra a varíola dos macacos a diversas nações, incluindo o Brasil. Segundo especialistas, o esquema vacinal dos imunizantes é de duas doses com intervalo de cerca de 30 dias entre elas Jackyenjoyphotography/ Getty Images 2 de 11 Concebida para agir contra a varíola humana, erradicada na década de 1980, a vacina contra a condição também serve para evitar a contaminação pela varíola dos macacos, por serem doenças muito parecidas koto_feja/ Getty Images 3 de 11 Tanto o vírus causador da varíola humana quanto o causador da varíola dos macacos fazem parte da família “ortopoxvírus”. A vacina, portanto, utiliza um terceiro vírus desta família, que, além de ser geneticamente próximo aos supracitados, é inofensivo aos humanos e ajuda a combater as doenças, o vírus vaccinia Wong Yu Liang/ Getty Images 4 de 11 Homens que fazem sexo com outros homens e as pessoas que tiveram contato próximo com um paciente infectado foram consideradas prioritárias para o recebimento das doses Jackyenjoyphotography/ Getty Images 5 de 11 Atualmente, existem duas vacinas em uso contra a varíola dos macacos no mundo: a Jynneos, fabricada pela farmacêutica dinamarquesa Bavarian Nordic, e a ACAM2000, fabricada pela francesa Sanofi Jackyenjoyphotography/ Getty Images 6 de 11 A Jynneos é administrado como duas injeções subcutâneas (0,5 mL) com 28 dias de intervalo. A resposta imune leva 14 dias após a segunda dose A Mokhtari/ Getty Images 7 de 11 A ACAM2000 é administrado como uma dose percutânea por meio de técnica de punção múltipla com agulha bifurcada. A resposta imune leva 4 semanas David Talukdar/Getty Images 8 de 11 A vacinação contra a mpox é uma estratégia indicada tanto para a prevenção e defesa quanto para ensinar o corpo a combater o vírus antes de uma infecção bymuratdeniz/ Getty Images 9 de 11 Entre os sintomas da condição estão: febre, dor de cabeça, dor no corpo e nas costas, inchaço nos linfonodos, exaustão e calafrios. Também há bolinhas que aparecem no corpo inteiro (principalmente rosto, mãos e pés) e evoluem, formando crostas, que mais tarde caem Isai Hernandez / Getty Images 10 de 11 A transmissão do vírus ocorre, principalmente, por meio do contato com secreções respiratórias, lesões de pele das pessoas infectadas ou objetos que tenham sido usados pelos pacientes. Até aqui, não há confirmação de que ocorra transmissão via sexual, mas a hipótese está sendo levantada pelos cientistas Sebastian Condrea/ Getty Images 11 de 11 O período de incubação do vírus varia de sete a 21 dias, mas os sintomas, que podem ser muito pruriginosos ou dolorosos, geralmente aparecem após 10 dias KATERYNA KON/SCIENCE PHOTO LIBRARY/ Getty Images Se a transmissão ainda é local, por que a OMS declarou emergência internacional? A infecção começou na RDC, mas tem se espalhado por nações que fazem fronteira com o país. Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda confirmaram casos da doença (somando mais de 100 comprovações laboratoriais). Como a principal população afetada inicialmente foi a de mineiros, que são itinerantes e atuam em vários países da região, o espalhamento pode se intensificar. A OMS, porém, não tem evidências de que o clado 1b esteja em outros países. Por isso, os especialistas ouvidos pelo Metrópoles apontam que a intenção da entidade ao declarar emergência seja para trazer luz ao problema e para que sejam investidos mais recursos no controle do surto e no remanejamento de vacinas para o local. “A gente não tem previsão, a curto prazo, de ter uma grande quantidade de vacinas de varíola. O alerta da OMS, inclusive, vai nesse sentido de convocar mais laboratórios que tenham capacidade de produzir vacina de mpox, já que as expectativas de produção são baixas”, explica o médico infectologista Ralcyon Teixeira, do Hospital Sírio-Libanês em São Paulo. Com a produção atual, a OMS acredita que terá até o fim do ano apenas um milhão de doses da vacina, o que pode ser insuficiente para imunizar todas as pessoas que terão contato com o vírus até lá. Siga a editoria de Saúde no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto! Notícias
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