Mudanças climáticas são associadas à pior prevenção do HIV, diz estudo Ouvir 8 de janeiro de 2025 Eventos climáticos extremos estão comprometendo o progresso no combate ao HIV, aponta um estudo publicado na segunda-feira (6/1). A pesquisa revela como desastres naturais como enchentes e secas mais severas estão dificultando o acesso à prevenção, testes e tratamentos, colocando em risco os avanços do combate à aids das últimas décadas, especialmente no continente africano. O estudo foi divulgado na revista Current Opinions in Infectious Disease e conduzido por pesquisadores da Universidade de Toronto, no Canadá. Foram revisadas 22 investigações publicadas entre 2022 e 2024 que exploraram os efeitos das mudanças climáticas nas infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Leia também Saúde HIV cresce entre idosos. Confira 7 mitos e verdades sobre a infecção Saúde Infecções por HIV no Brasil crescem pelo terceiro ano consecutivo Brasil HIV em transplantes: Justiça manda soltar donos de laboratório Saúde Carga viral indetectável: o que significa o termo na luta contra o HIV A relação das mudanças climáticas com o HIV O estudo identificou que secas, inundações e outros eventos climáticos extremos estão associados à redução das possibilidades de acesso aos testes de HIV, aos preservativos, e ao aumento de comportamentos de risco como a troca de sexo por favores econômicos. “Eventos climáticos extremos causam danos estruturais à infraestrutura de assistência médica e aumentam a migração e o deslocamento, ambos interrompendo o acesso a clínicas de HIV para prevenção e teste. Também vemos aumentos em práticas que aumentam o risco de HIV devido à escassez de recursos”, resume a autora principal do estudo, Carmen Logie, em comunicado à imprensa. As políticas de prevenção do HIV incluem frentes múltiplas, mas que precisam de uma infraestrutura de saúde que tem sido destruída por mudanças climáticas. Nas enchentes do Rio Grande do Sul de 2024, por exemplo, o atendimento a pelo menos 3,4 mil pessoas vivendo com HIV/aids foi prejudicado e o governo do estado precisou fazer uma força-tarefa para impedir que as pessoas ficassem sem o antirretroviral. 13 imagens Fechar modal. 1 de 13 HIV é a sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana. O causador da aids ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. Os primeiros sintomas são muito parecidos com os de uma gripe, como febre e mal-estar. Por isso, a maioria dos casos passa despercebida Arte Metrópoles/Getty Images 2 de 13 A baixa imunidade permite o aparecimento de doenças oportunistas, que recebem esse nome por se aproveitarem da fraqueza do organismo. Com isso, atinge-se o estágio mais avançado da doença, a aids Anna Shvets/Pexels 3 de 13 Os medicamentos antirretrovirais (ARV) surgiram na década de 1980 para impedir a multiplicação do HIV no organismo. Esses medicamentos ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico Hugo Barreto/Metrópoles 4 de 13 O uso regular dos ARV é fundamental para aumentar o tempo e a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV e reduzir o número de internações e infecções por doenças oportunistas iStock 5 de 13 O tratamento é uma combinação de medicamentos que podem variar de acordo com a carga viral, estado geral de saúde da pessoa e atividade profissional, devido aos efeitos colaterais iStock 6 de 13 Em 2021, um novo medicamento para o tratamento de HIV, que combina duas diferentes substâncias em um único comprimido, foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) Hugo Barreto/Metrópoles 7 de 13 A empresa de biotecnologia Moderna, junto com a organização de investigação científica Iavi, anunciou no início de 2022 a aplicação das primeiras doses de uma vacina experimental contra o HIV em humanos Arthur Menescal/Especial Metrópoles 8 de 13 O ensaio de fase 1 busca analisar se as doses do imunizante, que utilizam RNA mensageiro, podem induzir resposta imunológica das células e orientar o desenvolvimento rápido de anticorpos amplamente neutralizantes (bnAb) contra o vírus Arthur Menescal/Especial Metrópoles 9 de 13 Nos Estados Unidos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças aprovou o primeiro medicamento injetável para prevenir o HIV em grupos de risco, inclusive para pessoas que mantém relações sexuais com indivíduos com o vírus spukkato/iStock 10 de 13 O Apretude funciona com duas injeções iniciais, administradas com um mês de intervalo. Depois, o tratamento continua com aplicações a cada dois meses iStock 11 de 13 O PrEP HIV é um tratamento disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) feito especificamente para prevenir a infecção pelo vírus da Aids com o uso de medicamentos antirretrovirais Joshua Coleman/Unsplash 12 de 13 Esses medicamentos atuam diretamente no vírus, impedindo a sua replicação e entrada nas células, por isso é um método eficaz para a prevenção da infecção pelo HIV iStock 13 de 13 É importante que, mesmo com a PrEP, a camisinha continue a ser usada nas relações sexuais: o medicamento não previne a gravidez e nem a transmissão de outras doenças sexualmente transmissíveis, como clamídia, gonorreia e sífilis, por exemplo Keith Brofsky/Getty Images Apesar dos impactos globais das mudanças climáticas, os estudos analisados por Logie se concentraram em maior medida no contexto do continente africano, que concentra 54% da população mundial vivendo com o vírus. Lá, situações como insegurança alimentar e migrações forçadas devido às prolongadas secas causadas pelo aquecimento global expuseram as populações a um risco elevado de contato com o HIV. Para as pessoas que já vivem com a doença, muitas tiveram uma pior adesão ao tratamento em consequência das alterações do clima, o que levou a um aumento significativo médio da carga viral. Esta alta é um dos fatores associados a um eventual aparecimento da aids em pessoas com o HIV. A autora do estudo destacou que as mudanças climáticas obrigam os governos a pensar em novas estratégias multiníveis, como terapias de longa duração e distribuição comunitária de medicamentos, para mitigar a situação. “Intervenções inovadoras de HIV, como PrEP de ação prolongada, farmácias móveis e clínicas de saúde, e intervenções que reduzem a insegurança alimentar e hídrica podem contribuir para melhorar o tratamento de HIV durante eventos climáticos extremos”, explicou Carmen. 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