Uma mulher norte-americana de 30 anos descobriu que a sensação de queimação que tinha nos pés era causada pela presença de vermes parasitas no cérebro. O caso foi divulgado no The New England Journal of Medicine, na quarta-feira (12/2).
Os médicos envolvidos no caso não revelaram a identidade da paciente, mas contaram que ela foi atendida em janeiro de 2025 no Hospital Geral de Massachusetts, nos Estados Unidos. Ela não saiba origem dos sintomas quando procurou ajuda.
A mulher começou a sentir a queimação nos pés uma semana após retornar de uma viagem à Tailândia, Japão e Havaí. Ela contou que já vinha se sentindo cansada há alguns dias, mas acreditava ser consequência da longa jornada.
Os médicos suspeitam que a jovem provavelmente foi exposta ao parasita ao ingerir vegetais ou frutas mal higienizados no Havaí, onde relatou ter comido muitos alimentos crus e sushis, o que aumenta o risco de infecção.
Piora dos sintomas
A sensação de queimação nos pés, que piorava com toques leves, levou a estadunidense a procurar um médico por duas vezes, mas ela recebeu apenas um anti-inflamatório e foi mandada de volta para casa.
Os sintomas de queimação progrediram para uma sensação dolorosa que se espalhou também para os braços, além de dores de cabeça intensas e febre leve. Desta vez, ela foi medicada com um analgésico e foi orientada a voltar para casa.
Em casa, a mulher tomou um comprimido de zolpidem — medicamento indicado para tratamento de insônia — e passou a apresentar confusão mental, acreditando que ainda estivesse no Havaí, embora tivesse retornado de viagem há quase quinze dias.
Exames de imagem e uma punção lombar revelaram a presença de vermes do tipo Angiostrongylus cantonensis no cérebro da mulher. Os parasitas foram responsáveis por uma meningite eosinofílica, também conhecida como meningite do caramujo.
Vermes da meningite do caramujo
O Angiostrongylus cantonensis é transmitido principalmente por moluscos como o caramujo gigante africano. Originário da Ásia, o parasita chegou ao Brasil em 2006, onde se espalhou devido à proliferação do caramujo Achatina fulica, o gigante africano.
O ciclo de vida padrão do verme envolve a infecção de roedores e moluscos, mas humanos podem ser contaminados ao ingerir alimentos com larvas do parasita.
A maioria dos paciente é assintomática ou apresenta sintomas leves. Em alguns casos, o parasita pode chegar ao cérebro e causar dores de cabeça, rigidez no pescoço, vômitos e problemas cerebrais e nervosos, levando 3% dos infectados à morte. Para os que sobrevivem, cada dia de dor de cabeça prolongada sem tratamento aumenta em 26% as chances de coma.
A meningite eosinofílica ocorre quando as larvas se instalam no corpo humano e migram para o sistema nervoso central, causando inflamação nas meninges, uma película que envolve o cérebro. A doença não é transmitida de pessoa para pessoa.
Tratamento
Especialistas que escreveram o relato de caso alertam para a importância da higienização adequada de alimentos e do controle de moluscos em áreas endêmicas.
Os animais doentes liberam muco sobre os alimentos e também podem ser triturados e ingeridos em saladas ou temperos sem que se perceba. A água sanitária diluída pode ser usada para desinfetar verduras e frutas, reduzindo o risco de infecção.
A paciente foi tratada com corticosteroides e albendazol, medicamento para vermes. Ela apresentou melhora significativa após seis dias de internação.
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