Pesquisas e aplicações na prática: profissional de Educação Física vai a campo e compartilha descobertas Ouvir 23 de julho de 2024 Danielli Mello, professora titular da Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx), fala sobre seu recente trabalho na Maratona do Rio e revela também o que levará para a IHRSA Fitness Brasil Yara Achôa, Fitness Brasil 22/7/2024 Tanto quanto se dedicar às pesquisas, ela gosta de mostrar suas descobertas em aplicações práticas. Com quase 30 anos de magistério, Danielli Mello, titular da Escola de Educação Física do Exército, pesquisadora com ênfase em fisiologia do exercício, fisiologia em ambientes extremos, estresse térmico e bioquímica do esporte, é profissional do tipo “mão na massa”. Recentemente, por exemplo, esteve à frente de um estudo realizado com atletas na Maratona e Meia Maratona do Rio de Janeiro, com foco em hidratação e reposição eletrolítica – trabalhando in loco, com resultados muito rápidos e interessantes. Já como palestrante da IHRSA Fitness Brasil 2024 – maior encontro da indústria fitness, saúde e bem-estar da América Latina, que acontece de 22 a 24 de agosto de 2024, no Transamérica Expocenter, em São Paulo – ela também levará conteúdo aplicável no dia a dia no curso técnico “Prática e aplicação em avaliação física: uma abordagem clínica”, com a aula “Termografia na prevenção e tratamento de lesões esportivas”. + IHRSA Fitness Brasil 2024: faça parte do maior evento de fitness, saúde e bem-estar da América Latina + Siga a Fitness Brasil no Instagram A seguir, Danielli explica sobre as descobertas a partir do acompanhamento da participação de atletas amadores na Maratona do Rio e o que vai apresentar no grande evento do fitness. Como surgiu a ideia da pesquisa com atletas da Maratona do Rio? Essa prova é o maior evento esportivo em nossa cidade. Uma marca de bebida esportiva nova no mercado – um produto com uma proposta mais natural (zero açúcar, três vezes mais eletrólitos que os convencionais e feito com água de coco orgânica), com mais sódio, potássio e magnésio, que são os principais minerais perdidos em provas longas e de alta intensidade em função da desidratação – estava levando um grupo de atletas para correr. E surgiu a ideia de fazer uma pesquisa aplicada, com o olhar do conhecimento científico, enfim, fazer uma consultoria técnica. Tudo muito pautado em evidências. Até porque tenho quase 30 anos de magistério, de mercado acadêmico. A ideia era vermos o impacto da meia maratona e da maratona na questão da desidratação. Queríamos ver como essas pessoas chegariam ao final dessas provas longas e de alta intensidade com essa reposição de eletrólitos. O objetivo da minha pesquisa era entender de forma geral o que aconteceria em função do calor ambiental sobre o organismo e como a bebida esportiva ajudaria para que esse impacto do ambiente e do exercício não fosse tão degenerativo, tão comprometedor no desempenho do atleta. Você usou alguma tecnologia nova nesse trabalho? Sim, eu tinha acabado de receber um equipamento novo, portátil, que veio da Austrália, que permite medir de forma muito mais prática e rápida o nível de desidratação. Fazemos essa medida pela saliva em poucos segundos. Então unimos o evento da maratona com a praticidade do equipamento que permitisse fazer uma avaliação em campo de forma dinâmica e que também não comprometesse a rotina dos atletas. Foram aproximadamente 25 atletas da meia maratona e um da maratona (Miguel Morone, que embora competisse na categoria amadora, tinha chances de vencer a prova). Como foi o trabalho em si? A largada da meia maratona, no sábado, estava marcada para seis da manhã. E começamos a trabalhar às 4:30. Na Maratona, no domingo, a largada aconteceria às cinco da manhã, então estava a postos às quatro. Tudo para poder avaliar sem atrapalhar os atletas, mesmo sendo um teste rápido. O equipamento registra quatro categorias, com interpretações imediatas: hidratado, levemente desidratado, desidratação moderada e desidratação grave. É muito fácil de verificar. Junto com esse teste também fizemos a pesagem – era anotado o peso corporal total antes e depois da corrida, para termos as variáveis junto com o tempo de prova e todo o roteiro de consumo dos atletas em cada momento. O dia da prova foi incrível. Um evento esportivo dessa magnitude não tem como você não se envolver. Eu estava super empolgada com a pesquisa também. Mesmo os atletas testados tendo uma perda de peso grande, eles estavam hidratados e alguns só levemente desidratados. Ou seja, a bebida esportiva deu resultado ao longo da prova. Quais as principais descobertas? Alguns atletas tiveram uma perda de peso realmente grande. A média, na meia maratona, foi cinco ou seis quilos. E mesmo assim eles chegavam hidratados ou levemente hidratados, o que é sensacional. Na maratona o Miguel Morone teve uma perda de dez quilos! Mesmo assim, ele conseguiu chegar somente levemente desidratado em função de toda estratégia nutricional e toda estratégia de hidratação. Com isso, pudemos ver que um atleta que teve uma perda de 10 quilos, uma porcentagem significativa de seu peso corporal – o que está associado a um quadro grave de desidratação –, conseguiu se manter hidratado, conseguiu performar e foi o campeão da prova. Ele teve uma perda realmente das reservas de glicogênio, das reservas de gordura, um pouco também das reservas de massa magra, que é normal em uma atividade de endurance. Mas conseguiu repor. E depois, com uma boa orientação nutricional e de hidratação pós-prova, isso também é facilmente restaurado. Essas constatações foram muito interessantes na pesquisa. Leia também Ondas de calor: especialista alerta sobre cuidados para se exercitar em dias de alta temperatura Pesquisa elenca 8 hábitos que podem aumentar duas décadas de vida: praticar atividade física é um deles Tem algum material disponível a respeito dessa pesquisa? Tudo é muito novo. Esse equipamento é muito novo. Mas agora com o material da maratona e algumas pesquisas que estão em andamento, com esse repositor hidroeletrolítico, junto com esse equipamento de hidratação, e ainda outros equipamentos que trazem medidas de temperatura interna, medidas de temperatura da pele, controle de eletrólitos perdidos, ou seja, junto com outras tecnologias, até o final do ano pretendo apresentar alguns estudos de casos, alguns abstracts, resumos em congressos científicos. E já para o próximo ano trazer uma publicação em forma de artigo, em algum periódico de maior impacto. Vale salientar que o objetivo não é estudar só atletas de alta performance. Eu trabalho na escola de Educação Física do Exército. Então meu objetivo também é acompanhar o dia a dia dos atletas táticos, que são militares das forças armadas, das forças auxiliares, polícia e bombeiro. Queremos produzir estudos para essa categoria, para essa classe que precisa de um nível de aptidão física muito elevado. Vou utilizar toda essa pesquisa sobre hidratação, na verdade sobre os efeitos da desidratação e como conseguimos minimizar isso, tanto para o rendimento, para o desempenho esportivo, como também para o desempenho desses militares em atividades operacionais. Terei o atleta amador, o atleta profissional e o atleta tático envolvidos nas minhas pesquisas. Até o próximo ano pretendo compartilhar bastante conhecimento em relação a isso. Mas quem tiver interesse agora, pode fazer contato pelas mídias sociais. Será um prazer fornecer mais informações e compartilhar a minha experiência. E na IHRSA Fitness Brasil, o que você vai apresentar com aplicação prática? Vou abordar a termografia, compartilhar minha experiência nessa área. A ideia é dividir a aula em dois momentos, um mais conceitual, mostrando todos os critérios que são necessários para realizar essa avaliação – que é um tipo de avaliação que tem variáveis ambientais, físicas e técnicas. Se você não tiver cuidado, não tiver critério, pode interferir na realização do exame. Vou deixar bem detalhado quais são os cuidados necessários, falar de sua aplicabilidade e também fazer uma demonstração prática. A termografia tem diferentes finalidades e sua utilização vem crescendo muito. Mas ela vem sendo muito usada principalmente para o monitoramento da carga interna de treinamento. Isso é essencial para a prevenção de lesões. Outro lado da termografia é identificar lesões precoces, antes que se tornem mais gravem. E ainda há o caso de existir uma lesão instalada, e você, junto com uma equipe multidisciplinar, trabalhar com a termografia no tratamento para que o atleta retorne de forma mais rápida e com segurança. São muitas novidades e teremos a oportunidade de fazer essas dinâmicas na prática. Fitness
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