Sequelas mentais pós-AVC são ignoradas, dizem especialistas no Sarah Ouvir 8 de maio de 2025 Após o acidente vascular cerebral (AVC), uma das principais preocupações é retomar a capacidade de fala e de caminhar dos pacientes. No entanto, esse enfoque acaba deixando uma série de sequelas dos derrames invisibilizadas. Embora muitas vezes sejam negligenciados na neurorreabilitação, os déficits cognitivos pós-AVC afetam cerca de 60% dos pacientes. O alerta foi feito durante o 1º Congresso Latino-Americano da Federação Mundial de Neurorreabilitação (WFNR), realizado no Hospital Sarah, em Brasília. Leia também Saúde Congresso no Sarah: “Não há prazo para recuperação do AVC”, diz médico Saúde No Sarah, médico lista os 6 casos mais importantes da neuropsiquiatria Saúde Lúcia Braga: “Brasília é um polo de neurociência”, diz presidente da Rede Sarah Saúde Hospital Sarah recebe congresso internacional sobre neurorreabilitação Em uma mesa realizada nesta quinta-feira (8/5), a neuropsicóloga Luciana Schermann Azambuja alertou que embora os efeitos cognitivos sejam tão difundidos, ainda é raro que sejam feitas avaliações neuropsicológicas desde o início da reabilitação. “As questões motoras são mais evidentes, mas por que insistir apenas em reabilitar o corpo e ignorar o cérebro que o comanda?”, questiona. Ela alerta que a invisibilização das sequelas é ainda maior para pacientes que tiveram o hemisfério direito afetado pelo AVC. Eles podem ter a percepção espacial prejudicada, dificuldade de manter a atenção, de desenhar ou de processar imagens e outras ferramentas não-verbais, além de alterações de personalidade como falta de empatia e dificuldade de processar emoções. “Como a fala, dominada pelo hemisfério esquerdo, permanece intacta e os pacientes conseguem se comunicar naturalmente, muitas vezes nem o paciente percebe suas dificuldades. Na realidade, a negação do próprio comprometimento é muito comum entre os pacientes”, alerta o neurologista Jaderson Costa da Costa. 3 imagens Fechar modal. 1 de 3 Suzana Palmini BRENO ESAKI/METRÓPOLES @BrenoEsakiFoto 2 de 3 Luciana Schermann Azambuja BRENO ESAKI/METRÓPOLES @BrenoEsakiFoto 3 de 3 Jaderson Costa da Costa BRENO ESAKI/METRÓPOLES @BrenoEsakiFoto Déficits invisíveis do AVC Casos clínicos mostram como esses déficits passam despercebidos. O caso de uma médica que sofreu um AVC aos 47 anos foi analisada pelos especialistas durante o Congresso. Embora se comunicasse com naturalidade e não tivesse a memória afetada, a paciente não foi capaz de desenhar um relógio de ponteiro ou uma casa. Ela deixava sempre o lado esquerdo do papel, controlado pelo hemisfério direito do cérebro, em branco, sem que se desse conta disso. A paciente, médica de formação, resistia ao diagnóstico. “Achava que ia retomar suas atividades normalmente”, lembra Luciana. Esse tipo de negação do próprio estado clínico tem nome: anosognosia. Trata-se de uma condição em que o indivíduo não reconhece suas limitações e, por isso, pessoas ao redor devem ser mais atentas que os próprios pacientes ao observar essas limitações. Sintomas corporais também indicam déficits Para a fisioterapeuta Suzana Palmini, é fundamental que as neurorreabilitações passem a integrar atividades motoras e neurológicas para que possam de fato reduzir o comprometimento dos pacientes. “Há alguns casos de pacientes que compensam e mascaram os sinais, mas quando cobrirmos o lado menos afetado pelo AVC e pedimos para que eles executem as ações, se nota que, na prática, muitos deles deixaram de perceber aqueles membros como parte de seu próprio corpo”, alerta Suzana. 10 imagens Fechar modal. 1 de 10 O acidente vascular cerebral, também conhecido como AVC ou derrame cerebral, é a interrupção do fluxo de sangue para alguma região do cérebro Agência Brasil 2 de 10 O acidente pode ocorrer por diversos motivos, como acúmulos de placas de gordura ou formação de um coágulo – que dão origem ao AVC isquêmico –, sangramento por pressão alta e até ruptura de um aneurisma – causando o AVC hemorrágico Pixabay 3 de 10 Muitos sintomas são comuns aos acidentes vasculares isquêmicos e hemorrágicos, como: dor de cabeça muito forte, fraqueza ou dormência em alguma parte do corpo, paralisia e perda súbita da fala Pixabay 4 de 10 O derrame cerebral não tem cura, entretanto, pode ser prevenido em grande parte dos casos. Quando isso acontece, é possível investir em tratamentos para melhora do quadro e em reabilitação para diminuir o risco de sequelas Pixabay 5 de 10 Na maioria das vezes, acontece em pessoas acima dos 50 anos, entretanto, também é possível acometer jovens. A doença pode acontecer devido a cinco principais causas Pixabay 6 de 10 Tabagismo e má alimentação: é importante adotar uma dieta mais saudável, rica em vegetais, frutas e carne magra, além de praticar atividade física pelo menos 3 vezes na semana e não fumar Pixabay 7 de 10 Pressão alta, colesterol e diabetes: deve-se controlar adequadamente essas doenças, além de adotar hábitos de vida saudáveis para diminuir seus efeitos negativos sobre o corpo, uma vez que podem desencadear o AVC Pixabay 8 de 10 Defeitos no coração ou vasos sanguíneos: essas alterações podem ser detectadas em consultas de rotina e, caso sejam identificadas, devem ser acompanhadas. Em algumas pessoas, pode ser necessário o uso de medicamentos, como anticoagulantes Pixabay 9 de 10 Drogas ilícitas: o recomendado é buscar ajuda de um centro especializado em drogas para que se possa fazer o processo de desintoxicação e, assim, melhorar a qualidade de vida do paciente, diminuindo as chances de AVC Pixabay 10 de 10 Aumento da coagulação do sangue: doenças como o lúpus, anemia falciforme ou trombofilias; doenças que inflamam os vasos sanguíneos, como vasculites; ou espasmos cerebrais, que impedem o fluxo de sangue, devem ser investigados Pixabay Reconstrução da identidade após o AVC Os comprometimentos cognitivos do AVC podem afetar até a personalidade do paciente sem que se notem as mudanças. “O acidente pode comprometer o self, a percepção de quem se é. Há relatos de pacientes que deixaram de se reconhecer, de entender quem eles são por eles mesmos e, por isso, não podemos pensar que ele estará recuperado sem que reconstrua essa identidade pessoal”, explica Jaderson Costa da Costa. Para ele, a reconstrução do self é mais rápida se forem incluídos aspectos de transcendência, como a prática de empatia, espiritualidade e experiências místicas. “Pensar na transcendência é fundamental para restaurar a conexão do paciente com o mundo. Não percebemos a nossa existência pelos cinco sentidos: nossa identidade, nosso senso moral, está na rede oculta do cérebro, quando pensamentos deambulam. Incentivar isso deve ser parte da neurorreabilitação”, conclui o especialista. Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e no Canal do Whatsapp e fique por dentro de tudo sobre o assunto! Notícias
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