Paciente supera câncer raro após receber prognóstico de morte Ouvir 15 de abril de 2024 Apesar de vários exames afirmarem que o nódulo na garganta do headhunter Julio Cesar Dantas era benigno, ele tinha pressentimento ruim. “Passei três anos tentando descobrir o que era. Fui a três médicos sem que nenhum fechasse o diagnóstico”, conta. Julio Cesar fez até biópsia do nódulo. O resultado não apontou o problema, que só foi identificado em maio de 2020: ele tinha um linfoma raro, o das células do manto (LCM). A notícia ruim veio acompanhada de várias outras. Não só se tratava de um tipo de câncer agressivo e considerado incurável, como também era uma sentença de morte. As primeiras previsões eram de que ele viveria apenas mais algumas semanas. Com muita sorte, poucos meses. Leia também Saúde Linfoma de Hodgkin: entenda o câncer que Parreira enfrenta Saúde Risco de linfomas aumenta com a idade. Saiba como prevenir Saúde Linfoma não Hodgkin: saiba os sintomas de câncer no sistema linfático Saúde Saiba sintomas do linfoma não Hodgkin, câncer que afeta Jane Fonda O linfoma do manto O LCM é uma doença rara com taxa de sobrevida mediana de 3 a 5 anos. A condição representa apenas 5% dos cerca de 12 mil casos de linfomas não Hodgkin diagnosticados anualmente no Brasil e, embora progrida em geral de forma lenta, é resistente ao tratamento, sem contar que há poucos anos não havia chance de dar mais anos de vida aos pacientes. Geralmente, os tumores são identificados em homens a partir dos 60 anos. Julio tem apenas 45 anos. O LCM atinge as células do manto, que estão na borda externa dos gânglios linfáticos, da medula e do baço. “O linfoma do manto pode aparecer de diversas formas, algumas sintomáticas, outras, não. Ele pode causar aumento dos gânglios, como uma íngua na garganta; sintomas de anemia; aumento súbito dos linfócitos do sangue ou lesões no intestino que ficam invisíveis por algum tempo”, explica o hematologista Rony Schaffel, especialista em linfoma, professor da UFRJ e médico de Julio. Os linfomas são neoplasias que atacam o sistema linfático e, geralmente, se manifestam por meio de inchaço nos gânglios Uma luta pelo diagnóstico O caso de Julio Cesar era um dos praticamente assintomáticos. Ele não sentia nada além do caroço em seu pescoço, que era sensível ao toque e tinha cerca de oito centímetros de diâmetro. “Dava para pegar com o dedo”, lembra. A primeira biópsia que ele fez antes do diagnóstico apontou que se tratava de um tumor benigno, mas ele ainda tinha o pressentimento de que algo a mais estava acontecendo. Julio continuou procurando médicos e foi só quando finalmente passou por um pet scan (exame de corpo inteiro que identifica tumores distribuídos pelo organismo) que veio o diagnóstico. “Fui para a consulta com certa tranquilidade. Sabia que tinha um linfoma, mas tinha pesquisado e visto que era um tipo de câncer que se recuperava de forma relativamente fácil. Foi só diante do médico que descobri que meu tumor era de um tipo mais raro e que meu prognóstico era viver apenas mais algumas semanas”, relata. Ele foi encaminhado para uma consulta com Schaffel a fim de debater o caso. O especialista apontou que não havia, até 2020, nenhum caso de paciente com linfoma do manto que tivesse alcançado a remissão (ausência total de tumores no corpo). “Eu disse para ele que estava determinado a ser o primeiro”, lembra Julio. Tratamentos para tentar reverter a doença O tratamento começou com altas doses de quimioterápicos, mas o câncer não estava respondendo bem às tentativas. A principal esperança passou a ser o transplante de medula. Em fevereiro de 2021, ele se submeteu ao procedimento usando células do próprio organismo, o chamado transplante autólogo. A técnica injeta células-tronco do próprio paciente de volta na medula dele após quimioterapia intensa para recuperar o organismo. Entretanto, Julio Cesar acabou tendo falência medular, quando o tratamento torna a produção de sangue do organismo insuficiente. Para piorar, o headhunter contraiu no hospital infecção por superbactéria (KPC), o que aumentou a quantidade de remédios administrados. Apesar de todo o esforço, o tratamento não foi suficiente para eliminar o câncer. Uma pequena porção de células do linfoma se preservou no intestino de Julio Cesar e, sobrevivendo a todo o tratamento, elas se tornaram mais resistentes. O tumor passou para o tipo blastoide, uma forma ainda mais resistente de células do LCM – que corresponde a cerca de 10% dos casos. “Esse tipo de linfoma é o mais agressivo que temos. As células do linfoma do manto já são naturalmente mais resistentes ao tratamento: elas ficam muito tempo no organismo e isso as torna difíceis de serem identificadas como ameaças pelas defesas do corpo. Para piorar, as células blastoides são mais fortes e raramente podem ser destruídas”, explica o hematologista Schaffel. Linfoma de manto o que é tratamento (2) Remissão do linfoma de Julio Cesar foi apontada como possibilidade remota. No entanto, ele a alcançou em 2022 e está desde então sem sinais da doença Reprodução/Acervo pessoal Linfoma de manto o que é tratamento (4) Transplante de medula não apresentou o resultado esperado, e Julio Cesar foi desenganado mais uma vez Reprodução/Acervo pessoal Linfoma de manto o que é tratamento (1) Apesar dos percalços do tratamento, ele acredita que a doença cumpriu papel transformador em sua vida Reprodução/Acervo pessoal Voltar Progredir 0 Transformação de fé Em maio de 2021, quando o câncer de Julio Cesar se transformou, ainda não estavam disponíveis opções de tratamento mais avançadas, como o com CAR-T – que vem sendo testado no Brasil com bons resultados para esse tipo de linfoma. Como as células tinham se tornado do tipo blastoide menos de três meses após o transplante de medula, os médicos voltaram a desenganar Julio. As chances de alcançar a remissão eram praticamente nulas. “Para mim, essa jornada passou a ser sobrenatural. Embora eu tenha sempre sido um homem muito pragmático, o que ocorreu comigo foi um milagre. Acabei desenvolvendo uma sensibilidade muito grande e uma relação muito próxima com Deus. Decidi continuar o tratamento e pedia a cura nas minhas orações. No fim da terapia, já conseguia sair da quimio e ir jogar futebol com meus filhos. Era um progresso inexplicável”, lembra. Contra todos os prognósticos, em janeiro de 2022 os exames apontaram que o tratamento funcionou e não havia mais registro de células cancerígenas no organismo de Julio Cesar. “Ainda estou em uma jornada que está longe de acabar. Tenho que continuar o acompanhamento, mas a doença me transformou como indivíduo. Hoje, acredito que sirvo a um propósito”, conclui o headhunter. Para o hematologista que acompanhou o caso de Julio Cesar, o fato de ele ter alcançado a remissão diante de tantos prognósticos negativos é, verdadeiramente, uma raridade que deve ser muito celebrada. A ciência tem trabalhado para que essas histórias de superação sejam cada vez mais comuns. Em março de 2024, começou a ser vendido no Brasil um remédio específico para tratamento do linfoma de manto, o Jaypirce (pirtobrutinitbe), da farmacêutica Eli Lilly. Ele inibe a produção de uma enzima no organismo que é característica desse tipo de linfoma e atua de forma específica, diminuindo os impactos de quimioterapias mais genéricas que eram feitas anteriormente, como as que Julio Cesar fez. Siga a editoria de Saúde no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto! Notícias
Alergia respiratória pode evoluir para sinusite. Confira os sintomas 14 de dezembro de 2023 Pacientes com alergias respiratórias constantes, como a rinite alérgica, devem ficar alertas. Esses quadros – que a princípio parecem simples de cuidar, ainda que insistentes – podem evoluir para uma sinusite. A condição pode agravar consideravelmente o estado de saúde. “A sinusite é um processo inflamatório e/ou infeccioso dos seios… Read More
Ministério da Saúde: 5 estados podem zerar fila de cirurgias no SUS 2 de janeiro de 2024 Tocantins, Sergipe, Piauí, Paraíba e Mato Grosso do Sul podem zerar suas filas de cirurgias no Sistema Único de Saúde (SUS), conforme previsão do próprio Ministério da Saúde. Balanço divulgado pela pasta mostra que, até outubro de 2023, 250 mil cirurgias foram realizadas no país – mais de 70% da… Read More
Paciente que recebeu chip cerebral move mouse com pensamento, diz Musk 20 de fevereiro de 2024 Elon Musk afirmou, na segunda-feira (19/2), que o primeiro paciente humano que recebeu um chip cerebral da Neuralink conseguiu mover um mouse de computador com o pensamento. Segundo o bilionário, que é dono e fundador da Neuralink, o paciente parece ter se recuperado totalmente do procedimento realizado em janeiro para… Read More