Dieta e Potencial Imunomodulador Ouvir 21 de setembro de 2023 A evolução do sistema imune, dieta e microbioma estão interligados. O excesso de alimentação, bem como a desnutrição têm efeito substancial em respostas inflamatórias e no sistema imune. Em países mais desenvolvidos, dietas ricas em alimentos processados, gordura e açúcar podem contribuir para condições inflamatórias, que estão aumentando em todo o mundo. Dessa forma, a compreensão mais profunda da relação entre dieta e sistema imune é fundamental dado ao seu impacto nas doenças inflamatórias e potencial como mediador de imunomodulação facilmente modificável [1]. Dieta rica em gordura saturada ativa o sistema imunológico e inflamação Estudos pré-clínicos têm demonstrado que a dieta rica em gordura, principalmente as saturadas, em poucas semanas causam alterações da função imune e inflamação, antes mesmo do início da obesidade [2]. O primeiro local onde a dieta interage com o hospedeiro é o epitélio gastrointestinal, as dietas ricas em gordura têm um importante papel na função da constituição dessa camada, uma vez que diminuem a produção das conhecidas tigh junctions, proteínas que mantêm a barreira física do epitélio intestinal. Esse fato está associado ao aumento da permeabilidade intestinal e translocação de produtos bacterianos [3]. Estudos em humanos também têm associado o aumento de Proteobcteria e Firmicutes e redução de Bacteroidetes a maior inflamação. Corroborando com esses dados, dietas ricas em gorduras saturadas demonstraram alterar a microbiota (aumento de Enterobacteriaceae), e essa alteração pode ser indiretamente afetada pela inflamação imunomediada [4,5]. A dieta rica em gordura saturada foi capaz de aumentar a expressão de quimiocinas (CCL1 e CCL2) e receptores de quimiocinas (CCL2), levando à infiltração de monócitos e linfócitos pró-inflamatórios nos tecidos intestinais[6]. Em contextos específicos, as repostas imunes inatas podem ser induzidas diretamente por ácidos graxos, que são elevados no sangue após refeições ricas em gordura e ativam diretamente o TLR4 nos adipócitos e macrófagos, além de TLR2 nos monócitos para induzir a produção de citocinas [7]. Em adição, ácidos graxos saturados, tais como palmitato, pode diretamente ativar o inflamassoma NLRP3–ASC em células mieloides para apoiar o processamento de IL-1β [8]. Finalmente, a gordura dietética pode ter efeitos diretos nas células do sistema imunológico adaptativo, onde os ácidos graxos de cadeia longa, como ácido láurico, induzem a diferenciação das células T auxiliares 17 (Th17) e contribuem para a patologia em modelos animais de neuroinflamação [9]. Aditivos alimentares (açúcares e sal) e reflexo no sistema imune A dieta ocidental é caracterizada pelo aumento de aditivos, sal e açúcar, para tornar os produtos alimentícios mais duráveis e hiperpalatáveis. O açúcar também é importante modificador direto da resposta imunológica [10]. A glicose é fonte de combustível para o sistema imune inato, sendo importante na diferenciação, proliferação e função de células T CD4+ Th1, neutrófilos, macrófagos pró-inflamatórios e células dendríticas ativadas [11,12]. Contudo, a alta ingestão de glicose também aumenta a diferenciação de Th17 e exacerba modelos de colite e encefalomielite autoimune em camundongos. A limitação do açúcar na dieta demonstrou eficácia substancial no tratamento da doença inflamatória intestinal. O aumento da concentração de sal também tem efeito direto nas células imunológicas, devido a uma quinase sensível ao composto, a quinase SGK1 nas células T CD4+, a qual estabiliza a expressão do receptor IL-23 e aumenta a diferenciação de Th17. Tais alterações induzem a produção de citocinas pró-inflamatórias como TNF-α e IL-2, prejudicando a imunidade em animais que consumiram dieta rica em sal [13,14]. Assim, o sistema imunológico demonstra ser adaptável a dieta, principalmente através de alterações na microbiota intestinal e processos inflamatórios (Figura 1). Uma compreensão profunda da rede de interação que associa a dieta, o microbioma e o sistema imune é importante para conceder dietas a fim de mitigar doenças. Figura 1. A dieta rica em açúcar e gordura contribui para reduzir a diversidade do microbioma e ativar as células imunes inflamatórias (monócitos, macrófagos e neutrófilos) a fim de produzir citocinas infamatórias como IL-1β e TNF-α. Dessa forma, ocorre aumento da inflamação no intestino e elevação de Enterobacteriaceae e Enterococcaceae, perda da diversidade bacteriana e aumento da permeabilidade intestinal [15]. Referências [1] Burr AHP, Bhattacharjee A, Hand TW. Nutritional Modulation of the Microbiome and Immune Response. The Journal of Immunology 2020;205:1479–87. https://doi.org/10.4049/jimmunol.2000419. [2] Ji Y, Sun S, Xia S, Yang L, Li X, Qi L. 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